Tarcísio Farias de Almeida Ferreira, 28 anos, conhecido pelo apelido de ‘Pitbull’, foi preso na manhã de segunda-feira (15) após fazer quatro pessoas reféns em uma residência na Rua Lourival Costa, no bairro de Águas Claras. Ele tinha mandado de prisão aberto por feminicídio, mas também é investigado por outros crimes. Mais do que isso: é tido pelas forças policiais como o ‘maior matador’ da região.
Ao menos é o que afirma o delegado Daniel Menezes Pinheiro, coordenador da 2ª delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). “O mandado era pelo feminicídio, mas há mais crimes. Era o maior matador que a gente tinha na área de Águas Claras. A quantidade de homicídios não é possível dizer exatamente, mas são diversos assassinatos atribuídos a ele”, explicou.
De acordo com fontes da polícia, Tarcísio pode ser autor de mais de 20 homicídios, além de crimes também por tráfico de drogas e assalto. Por isso, já era conhecido da polícia. Durante o cárcere em que ameaçou quatro pessoas, de acordo com o coronel Antônio Magalhães, da Policia Militar (PM), o procurado se mostrava bastante alterado.
“Em todo o momento, mostrou nervosismo. O processo de negociação visou acalmar os ânimos para liberar as vítimas. Ele já é conhecido da polícia por diversos homicídios, tráfico de drogas, composição de facção e outros crimes. Estava armado com uma pistola e carregador alongado com capacidade para 30 disparos”, revelou.
Diretora do DHPP, que coordenava as buscas por Tarcísio, a delegada Andréa Ribeiro confirma as informações de Pinheiro e Magalhães. Ela conta ainda que a arma encontrada com ele vai ser fundamental para investigar a possível autoria de outros diversos homicídios que são apurados pelo departamento e têm ele como suspeito.
“Ele é possível autor de diversos homicídios com investigação em curso. Portanto, foi importante prendê-lo, primeiramente para evitar mais delitos contra a vida e novos homicídios. A arma, inclusive, passará por balística para comprovar se foi usada em outros crimes praticados por ele”.
Dois anos foragido
Apesar da prisão ter sido realizada agora, Tarcísio estava há mais de dois anos como foragido da polícia. Ele é acusado de matar a ex-companheira Mayara Soares dos Santos, 23 anos, em abril de 2021, também no bairro de Águas Claras. Naquele mesmo mês, o mandado de prisão foi expedido, mas o bandido não foi localizado. O DHPP, inclusive, fez diligências anteriores para encontrá-lo, todas sem sucesso. Dessa vez, uma denúncia anônima possibilitou a prisão do acusado.
“Recebemos uma informação, através do disque denúncia, de que ele estaria participando de uma festa que estava acontecendo na região e dormiu na casa da namorada. Então, os agentes apuraram essa denúncia e foram até lá cumprir o mandado. Ele, que estava no térreo, conseguiu evadir para o subsolo do prédio e fazer de refém as pessoas que estavam ali”, esclareceu a delegada Andréa Ribeiro.
Dos quatro reféns, eram três adultos e uma criança. Entre eles, estava a namorada de Tarcísio, um casal que é proprietário do imóvel onde ele foi encontrado e o filho deles. Todos foram liberados sem ferimentos, de acordo com a polícia. A família, porém, estava muito abalada com toda a situação e não conversou com a imprensa sobre as quatro horas de terror no cárcere privado.
Para liberar os cinco, o suspeito exigiu a presença da imprensa e dos familiares. Durante o diálogo com ele, os negociadores enfatizaram que todos estavam na residência. “Tarcísio, seu pai e seu advogado estão aqui. A imprensa também veio acompanhar, ninguém aqui vai tirar sua vida”, falou um negociador do Batalhão de Operações Policiais Especiais.
Durante as negociações, o pai de Tarcísio contou que não conseguiu ver o filho. “Eu tenho certeza de que se eu conseguir entrar, saio com ele tranquilo”, disse Jessé Alexandre. Ainda segundo o ele, o filho morava com a companheira próximo ao local onde aconteceu o cárcere. O local era alugado e composto por alguns kitnets. A família feita de refém era vizinha do criminoso.
Além do DHPP e do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), agentes da Rondas Especiais (Rondesp) e do Centro de Operações e Inteligência (COI) participaram da ação que terminou na prisão e condução do suspeito.
Casos de cárcere
Como o caso de Tarcísio, outras ocorrências em que fugitivos acabam por colocar em cárcere pessoas inocentes têm acontecido repetidamente em Salvador. Só no mês de abril, cinco episódios em que criminosos fizeram famílias ou pessoas reféns foram noticiados pelo CORREIO. Todos eles no bairro de Tancredo Neves.
No dia 12 de abril, quatro reféns foram liberados e quatro criminosos acabaram presos por equipes do Bope e da Rondesp Central. O caso aconteceu na localidade da Semente após traficantes perceberem a presença policial durante a Operação Intensificação. Os bandidos invadiram uma casa com quatro ocupantes, entre eles uma criança de 6 anos e uma idosa. Com os criminosos, foram encontrados duas pistolas e celulares.
Já em 17 de abril, um suspeito que foi visto armado no bairro fugiu da policia, entrou em uma residência e fez de refém uma adolescente de 16 anos. Também depois de quatro horas em cárcere, a vítima foi liberada e o homem preso por agentes da Polícia Militar.
No mesmo dia, um morador também do bairro de Tancredo Neves foi feito refém por dois suspeitos que haviam trocado tiros com militares. O Bope negociou com os sequestrados por quase duas horas antes que os dois se entregassem.
No dia seguinte, mais dois casos de cárcere aconteceram. Foram duas ocorrências distintas, mas na mesma região da comunidade da Aldeia, na Travessa Murici. Em uma delas, por volta das 20h, os bandidos se entregaram e liberaram um morador, sendo quatro suspeitos presos.
No outro caso, uma mulher grávida foi feita refém. Os criminosos ameaçaram os policiais com uma granada e chegaram a colocar um botijão de gás na entrada da casa, mas, depois das negociações, a vítima acabou liberada e os suspeitos presos.
Especialista em segurança pública, Antônio Jorge Melo afirma que a ação não é novidade por parte dos bandidos que estão em fuga da polícia. Ele analisa que tudo faz parte de uma estratégia para garantir que não vão morrer em confronto.
“É uma estratégia dos delinquentes para poder assegurar a integridade física quando estão cercados por policiais. Muitos têm receio de que, em confronto com a polícia ou até se entregando, eles podem acabar mortos pelos agentes de segurança”, explicou ele, que é coordenador do curso de Direito da Estácio.
Melo pontua ainda que atos como esse não trazem prejuízos aos criminosos junto ao local onde atuam. “Como eles já mantém a população em um cárcere eterno que é o da situação de violência, pouco custa fazer isso com uma família em específico. Eles controlam a área e não muda a forma como a população se comporta em relação a eles”, completou o professor.
(Arisson Marinho/CORREIO)
Correio 24 horas
0 Comentários