A reunião com os amigos em um bar em Pernambués era para celebrar o sucesso, afinal, a MV Rifas já havia pagado mais de um R$ 1 milhão em prêmios em 2 anos de atividade. Mas o dono da empresa, conhecido como Marcelo Rifas, foi retirado da própria festa à base coronhadas por dois homens que chegaram em um carro conduzido por uma terceira pessoa. Ele foi o terceiro rifeiro sequestrado em um mês no bairro, segundo fontes ouvidas pelo CORREIO sob a condição de anonimato. A “profissão perigo” voltou a ser alvo dos criminosos.
No ano passado, num intervalo de seis meses, pelo menos nove rifeiros foram assassinados em Salvador e Região Metropolitana – quatro deles tinham sido sequestrados. Ao contrário das demais vítimas, Marcelo Rifas estava com sorte, pois voltou no dia seguinte. Ele foi surpreendido pelos criminosos na noite do último dia 28 (sexta-feira) e libertado na madrugada, sem lesões aparentes. Em sua página no Instagram, ele postou um vídeo, no dia 29 (sábado), no qual aparece ajoelhado, juntamente com outras pessoas, e com a seguinte mensagem: “Obrigado a todos pessoal (sic) diretamente e indiretamente pelas orações e pelas preocupações. Nasci novamente”, disse ele aos seus mais de 6 mil seguidores.
O rifeiro e a família não estão comentando o assunto, principalmente com a imprensa. A Polícia Civil informou que, até o momento, não há registro de ocorrência do fato na 11ª Delegacia (Tancredo Neves), unidade que atende o bairro de Pernambués.
A reportagem procurou o próprio Marcelo, através de sua rede social, mas ele reforçou que não quer falar sobre o caso. O que se sabe é que, no dia do sequestro, ele bebia com amigos em um bar que costuma frequentar na Rua Thomaz Gonzaga, a principal do bairro. Era por volta das 23h, quando os criminosos chegaram. De uma Space Fox prata, desceram dois homens, cada um segurando uma pistola, e já chegaram dando coronhadas no rifeiro.
Terceiro sequestro
“Ninguém entendeu nada! O bar
estava cheio de gente e só foram nele. Não levaram nada de ninguém. O
alvo era ele. Puxaram Marcelo para dentro do carro, onde havia outro
cara lá, o motorista. Depois saíram em direção para quem vai para a
Paralela (avenida). Na hora, ninguém teve reação, os caras estavam
armados. Mas depois, todo mundo começou a espalhar a notícia do
sequestro, compartilhar nos grupos (de WhatsApp), porque Marcelo é muito
conhecido aqui no bairro, ele nasceu aqui”, contou um morador, que
preferiu não revelar o nome por questão de segurança.
Mas logo em seguida, o sequestro do rifeiro virou um assunto proibido em Pernambués. Raríssimas são as pessoas que ousam comentar o incidente. “Até as pessoas mais próximas à família dele não estão falando nada. Ninguém sabe como ele foi solto. Comentam que Marcelo já saiu ou vai sair de Pernambués. Foi o terceiro rifeiro sequestrado em um mês”, conta o morador. “A gente só ficou sabendo dos outros dois (casos), depois da situação de Marcelo. Os outros não são famosos como ele (Marcelo)”, completa a fonte. A Polícia Civil disse também não ter conhecimento dos sequestros apontados pelo morador do bairro.
Ascensão
A grande maioria das pessoas que
lidam com as rifas, que são jogos de azar, começou em 2020, início da
pandemia da covid-19, e com Marcelo não foi diferente. Em sua primeira
postagem no perfil da MV Rifas, em 28 de junho de 2020, o rapaz aparece
segurando uma tradicional rifa de papel e um modesto celular, usando uma
roupa mais simples.
Os meses foram passando e as postagens foram mostrando a ascensão do rifeiro, que em julho de 2021 já aparecia nas imagens em cenários produzidos, com roupas de marca e aparelho celular estimado acima de R$ 10 mil.
“O que se fala é que ele estava crescendo muito rápido e essas coisas incomodam”, disse uma moradora, que não quis dar detalhes e também optou pelo anonimato.
Em seu perfil, que tem como título “MV RIFAS O FAZENDEIRO”, Marcelo diz que, além de rifeiro, é blogueiro e empresário, dono da MVB Produções. Afirma ainda que já pagou mais de R$ 1 milhão em prêmios – em algumas postagens, ele aparece prestando contas aos ganhadores, exigindo transferências através de pix e pagamentos feitos em dinheiro vivo.
Na tabela de valores da MR Rifas, os interessados no jogo de azar podem apostar o valor mínimo, R$ 2, para concorrer a R$ 140, ou o máximo, R$ 50, para aventurar R$ 500 mil.
Mortos
Entre os casos dos rifeiros assassinados
em seis meses no ano passado, nenhum deles causou tamanha repercussão
como o casal Rodrigo da Silva Santos, 33 anos, o DG Rifas, e a mulher,
Hynara Santa Rosa da Silva, 39, a Naroka.
Eles foram baleados em Barra do Jacuípe, localidade de Camaçari. Fontes não oficiais dizem que o casal encabeçaria uma lista de rifeiros jurados de morte pelo Jogo do Bicho, cujas bancas estariam no prejuízo com a ascensão das rifas. A outra possibilidade é que o crime tenha como mandante uma pessoa que ganhou um sorteio, mas não levou o dinheiro.
Mas o que há de fato é que o caso vai completar cinco meses agora sem solução. Em nota, a Polícia Civil informou que o inquérito segue em andamento pela delegacia de Monte Gordo. “Diligências investigativas estão sendo realizadas e laudos periciais são aguardados para auxiliarem na elucidação do crime”, diz nota.
Mistério: morte de casal de rifeiros vai completar cinco meses sem autoria e motivação (Foto: Reprodução) |
Três das nove mortes são apuradas pela 3ª DH/BTS. São elas: os assassinatos de Itamar, o Guiga Rifas (22 de junho, no Subúrbio); Joilson Pires Damasceno Falcão (26 de julho, em Campinas de Pirajá) e William Santos (26 de julho, no São Caetano). Esses casos não têm ainda autoria e motivação. Sobre a morte de Jaiane Costa dos Santos (06 de julho, em Águas Claras), a PC disse que o inquérito está em fase de conclusão, já com indicativo de autoria, mas “detalhes não podem ser divulgados no momento”.
Sobre o assassinato dos gêmeos Ruan e Rubens Santos (25 de julho, no Lobato), o motivo tem relação com o tráfico de drogas e os autores já estão identificados, diz a polícia. Apenas o caso de Isabela dos Espírito Santos (15 de julho, em Pirajá) foi solucionado - o suspeito foi apresentado por policiais militares na Coordenadoria de Polícia Interestadual (Polinter), no dia 18 de fevereiro, após serem flagrados por câmeras de reconhecimento facial, em Camaçari. O motivo do crime não foi informado.
Apesar do surgimento da suposta lista, além do curto espaço de tempo entre as mortes, a Polícia Civil informou que “ainda não há indícios que a motivação dos crimes tenha relação com a atividade de ‘rifeiros’ exercida pelas vítimas”.
Correio 24 horas
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