Nordeste vai se transformar no polo para transição energética


Um respiro aliviado de quem conseguiu zerar em 100% do seu custo com energia. No Sítio Fiuza, em Guanambi, na Bahia, os pequenos produtores Eleni Cardoso e Joaquim Ribeiro agora podem transformar o que antes era um gasto em investimento para desenvolver sua produção. Hoje plantam milho e também produzem leite. Recentemente, o casal instalou 29 placas solares e já pensam futuramente em ter mais outras 20.

“A gente não tem chuva suficiente e quem quer plantar precisa de poço para irrigar. Essa energia, eu não pago mais. Não falta sol aqui para nós. O sol é coisa de Deus e a melhor coisa que o homem inventou foi isso, uma energia limpa que não estraga a natureza. Se tiver esse investimento para todo mundo trabalhar, aí fica bom”, diz Eleni. O casal só vai começar a quitar as parcelas do financiamento das placas em 2025. “E aí, com fé, vou pagar minhas parcelas direitinho, cuidar das minhas vacas e da minha roça e crescer. Precisamos que os investimentos cheguem na roça para que a gente possa produzir”, acrescenta a produtora.


Vento constantes, radiação solar, energia. A transformação vem daqui e o tamanho desse potencial ninguém pode duvidar. Não é de hoje que as fontes renováveis estão ganhando cada vez mais espaço na matriz energética brasileira e o Nordeste é prova disso. A região vem se consolidando, cada vez mais, como uma das grandes geradoras de energia limpa no país na atração da maior parte desses investimentos.

Segundo Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), área de pesquisa do Banco do Nordeste (BNB), a geração de energia solar cresce, em média, desde 2011, 112% ao ano no Brasil. Para a fonte eólica, a porcentagem é de 40% ao ano. Só para se ter uma ideia da dimensão dessa capacidade, nos últimos cinco anos, o Banco do Nordeste investiu mais de R$ 30 bilhões em projetos de energia renovável na região. Outros R$ 10 bilhões estão previstos ainda para 2023.

“O BNB desempenha um papel fundamental na ampliação dos investimentos em energia limpa, e a evolução dos financiamentos para o setor tem sido substancial. Se compararmos o valor contratado nos primeiros meses do ano passado com os desembolsos desse ano, o crescimento é de 25%”, explica o presidente do BNB, Paulo Câmara.

Os segmentos eólico e solar representam hoje mais de 70% dos créditos do Banco do Nordeste para energia renovável e estão em expansão. “As operações do Banco para financiamento de sistemas para geração de energia solar em residências cresceram 55% de 2021 para o ano passado. A quantidade de clientes que contrataram o crédito passou de 3.428 para 5.335 de um ano para o outro, o que demonstra uma maior busca pela autogeração. Foram liberados R$ 133 milhões em 2021 e R$ 184 milhões no ano”.


Câmara destaca ainda que o banco de desenvolvimento está apostando também no estímulo da produção de hidrogênio verde, o combustível do futuro. Em janeiro desse ano foi gerada no Ceará, a primeira molécula brasileira. “O berço dessa nova energia não é à toa. Todos esses investimentos visam a mudança de matrizes fósseis para fontes renováveis na geração de energia elétrica no Brasil”.

Mudança na matriz energética

O Nordeste responde atualmente pela maior parcela de geração de energia limpa no Brasil, segundo dados do Operador Nacional do Sistema (ONS). A expectativa do Banco do Nordeste é transformar região em um polo para transição energética, como destaca o diretor de Planejamento do BNB, Aldemir Freire.

“Os valores que o banco tem empregado na melhoria da infraestrutura energética do país vem do diálogo com organismos multilaterais em busca de mais recursos. Assim, temos outras fontes que contribuem, como FI-Infra, Agência Francesa de Desenvolvimento, Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE) e BNDES”.


Grande parte das contratações realizadas pelo BNB para geração de energia passam pelos recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE). Também é pelo FNE que o BNB tem incentivado grandes projetos de infraestrutura energética renovável.

“As aplicações utilizando essa fonte de recursos estão fazendo a Região se destacar como um polo promissor para a produção de energia renovável no Brasil. O BNB enxerga esse potencial como uma oportunidade e busca mais fontes para reafirmar seu compromisso em promover o desenvolvimento sustentável do país”, ressalta Freire.

Atualmente, uma das linhas de crédito oferecidas pelo BNB é a FNE Sol, que financia projetos de mini e microgeração de energia de empresas privadas industriais, agroindustriais, comerciais e de prestação de serviços, além de produtores rurais e pessoas físicas. A linha de financiamento inclui componentes de instalação, placas solares, inversores e materiais elétricos. Os juros pré-fixados são a partir de 7,9% ao ano.

“Ao longo dos últimos cinco anos, o Banco do Nordeste realizou mais de 24,7 mil operações de crédito por meio da FNE Sol, totalizando um investimento superior a R$ 2 bilhões. As taxas de juros são o diferencial. Por contarmos com recursos do Fundo Constitucional, podemos oferecer a nossos clientes as melhores condições de pagamento”, complementa.

A era da transição energética não tem volta. Veio para ficar. Diretor de operações da Qair Brasil, Gustavo Silva, afirma que a empresa deve alcançar até 2025 o primeiro GW instalado. A Qair Brasil tem hoje, aproximadamente, 600MW em projetos eólicos e solares fotovoltaicos em operação comercial e está prestes iniciar a iniciar as obras de mais 550MWp.

“Além disso estamos investindo no desenvolvimento de novos projetos eólicos e solares, bem como uma planta eólica offshore e projetos de hidrogênio verde. O Banco do Nordeste tem um papel importante na nossa evolução. Tem se mostrado um parceiro bastante ativo, apoiando nossos projetos financeiramente e este suporte permitiu viabilizamos 600MW em tão pouco tempo”.

Para concretizar essa transformação, a disponibilidade de recursos se torna ainda mais importante dentro de um cenário competitivo: “A oferta de crédito é essencial para viabilizar investimentos de capital intensivo como em plantas de energia eólica e solar. Mas, além de uma maior oferta, é importante que elas tenham custos financeiros satisfatórios, que tornem os projetos competitivos. Num momento de futuro próximo, do hidrogênio verde, uma vez que, sendo uma ‘commoditie’ em escala mundial, os custos adequados são uma condição fundamental para que possamos avançar”, defende.

Mais energia limpa

Outra empresa beneficiada pelo crédito do BNB é a Re9 Reciclagem, que com o apoio do banco de desenvolvimento conseguiu instalar o seu próprio sistema de geração de energia por painéis fotovoltaicos.

Com capacidade de geração de 15.000 kW/mês, vai completar em setembro, um ano de operação. Re9 está instalada em Campina Grande (PB) e atende a cinco estados do Nordeste, somando 200 fornecedores. São reciclados materiais como papelão, papel branco, além de diferentes tipos de plástico, oriundos de indústrias e de outras empresas.

São pelo menos 50 municípios envolvidos na cadeia de reciclagem, desde a coleta seletiva, separação e envio dos itens pelas empresas até a reinserção no mercado como novos produtos. 

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