Salvador em guerra: pânico tomou conta da Estrada do Derba


Era apenas mais uma operação policial para desarticular uma organização criminosa na capital baiana. Os policiais desembarcaram das viaturas no começo da manhã dessa sexta-feira (15), com o objetivo de cumprir 11 mandados de prisão no bairro de Valéria, mas encontraram um grupo criminoso fortemente armado e que pretendia invadir o bairro naquele momento. O saldo foram quatro suspeitos mortos, um policial federal assassinado, dois policiais feridos e uma população acuada.

Enquanto bandidos corriam na tentativa de fugir pela mata, policiais foram atrás, e o confronto persistiu. No meio do fogo cruzado, um motorista que passava pela BA-528, mais conhecida como Estrada do Derba, ficou assustado com o tiroteio, perdeu o controle do carro e tombou sobre o acostamento, sendo parado por uma árvore e uma cerca de casa. A TV Bahia flagrou uma ambulância dando meia-volta, impedida de passar pelo bloqueio policial após o confronto.

Os rastros de sangue e as dezenas de cápsulas de bala que foram encontrados pela perícia no local denunciaram a intensidade do conflito.

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Cerca de 100 policiais civis, militares e federais cumpririam os mandados judiciais, mas foram surpreendidos pela presença de integrantes de uma facção no bairro. Segundo testemunhas, havia cerca de 40 criminosos. O helicóptero do Grupamento Aéreo da Polícia Militar (Graer) foi acionado, e a PF chamou o 'caveirão' blindado.

Granadas foram lançadas sobre os policiais e até tiros de fuzil. Quatro homens suspeitos de participar da quadrilha foram mortos, mas apenas um teve a identificação divulgada. Uélisson Neves de Brito, conhecido como Cara Fina, era considerado tão perigoso que estava no Baralho do Crime, uma ferramenta da Secretaria da Segurança Pública (SSP) que reúne os bandidos mais procurados do estado. Ele tinha mandado de prisão em aberto e era investigado por tráfico de drogas e organização criminosa.

Estrada do Derba bloqueada pela polícia ap´s
Estrada do Derba bloqueada pela polícia. Crédito: Arisson Marinho/ CORREIO

O CORREIO flagrou o momento em que policiais militares precisaram escalar um barranco para detonar uma das granadas lançadas sobre a corporação que não havia explodido, enquanto um perito segurava um recipiente com uma dezena de alças de granadas que foram jogadas.

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Tropa ferida

Além dos quatro suspeitos mortos, três agentes foram feridos. O policial federal Lucas Caribé Monteiro de Almeida, 42 anos, não resistiu aos ferimentos e morreu. A colega dele, Hosannah Carneiro, foi socorrida para o Hospital Geral do Estado (HGE) e recebeu alta médica no final da manhã dessa sexta. Já o policial civil Vockton Carvalho Freire precisou passar por uma cirurgia e corre o risco de perder a visão de um olho. Ele está internado no HGE.

A notícia de que um policial federal foi assassinado e de que outros dois profissionais ficaram feridos provocou uma reação das autoridades públicas. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, se manifestou nas redes sociais lamentando o ocorrido e informou que o diretor-geral da Polícia Federal, Gustavo Souza, viria a Salvador, para acompanhar a investigação do caso. O reforço chegou na noite dessa sexta.

“Minha solidariedade aos policiais federais e estaduais atingidos por tiros na manhã de hoje [sexta] na Bahia, quando estavam cumprindo mandados judiciais. Infelizmente o policial federal Lucas faleceu. O diretor-geral da PF em exercício, delegado Gustavo Souza, vai à Bahia para acompanhar os fatos e estabelecer as orientações cabíveis”, escreveu Flávio Dino.

Além disso, 15 policiais do Comando de Operações Táticas (COT) de Brasília e um helicóptero foram enviados para reforçar as equipes da PF. O governador Jerônimo Rodrigues foi questionado durante a entrega de viaturas em Feira de Santana e também lamentou a morte.

“Quero ser solidário à PF, perdemos um homem em confronto com o crime organizado, as facções. A polícia está indo de encontro aquilo que não vai se estabelecer no estado da Bahia, que é a ocupação pelo crime organizado. Vamos continuar firmes. A gente não vai abrir mão da nossa segurança e firmeza para que na Bahia não se instale o crime organizado”, disse.

Investigação

O secretário da Segurança Pública, Marcelo Werner, reuniu a imprensa para prestar esclarecimentos. Ele começou se solidarizando com a família do policial assassinado e com os outros dois policiais feridos e prometeu ser implacável.

“Não pararemos, não descansarei, até encontrarmos todos os responsáveis por esse crime fatal. Continuamos realizando operações de segurança e policiamento ostensivo na área. Convoco a população a nos ajudar de forma anônima através do Disque Denúncia ou do 190”, disse.

Ele informou que dois fuzis foram apreendidos em Valéria, o que totaliza 46 fuzis recuperados pela polícia, neste ano, e cerca de 4 mil armas localizadas. Werner afirmou que as facções criminosas são um fenômeno nacional, mas que a polícia baiana não vai permitir que tomem conta do estado.

“Um dos criminosos que estavam no confronto é altamente perigoso, integrava o Baralho do Crime, era o Rei de Espadas. Outros que ainda estão sendo procurados, até por questão estratégica, não fazemos a divulgação dos nomes, mas queria deixar essa mensagem. Não iremos descansar, continuaremos com enfrentamento que tem que ser feito contra o crime, contra as facções que são responsáveis pela morte violenta no estado”, concluiu.

A operação em Valéria foi uma iniciativa da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco), uma cooperação entre os diversos departamentos da SSP e a Polícia Federal para combater as facções. O grupo surgiu em 11 de agosto de 2023. Nesta sexta-feira, emocionado, o superintendente da PF na Bahia, delegado Flávio Albergaria, afirmou que haverá resposta.

“Não iremos descansar, a PF está empregando todos os recursos humanos e tecnológicos para fazer enfrentamento a esses grupos criminosos na Bahia. Não vamos recuar, a ação prossegue, não vamos descansar enquanto não dermos uma reposta bem contundente a esses grupos criminosos que estão atuando na Bahia”, disse.

Depois do confronto, mais policiais federais, civis e militares ocuparam o bairro de Valéria. Essa ocupação não tem data para acabar.

Correio

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