Laboratório de drogas em hotel de Salvador usava empresas de entrega para envios nacionais



Além de vender e entregar drogas em bairros nobres de Salvador, o grupo criminoso que atuava em um ‘laboratório de entorpecentes’ no Hotel Astron, na Avenida Tancredo Neves, usava o serviço de empresas de entregas nacionais para enviar o material ilícito para todo o Brasil. O local, assim como outro laboratório que ficava em Jauá, no município de Camaçari, foi desarticulado na manhã desta quinta-feira (19) em operação da Polícia Civil.

Ao todo, uma tonelada de drogas foi apreendida e foram encontradas porções de maconha, haxixe, pó branco e pasta base semelhantes à cocaína e drogas sintéticas embaladas para entrega em pacotes dessas empresas. Thomas Galdino, diretor do Departamento de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil, foi o delegado responsável pela investigação que culminou com a desarticulação do local e a prisão de três suspeitos em flagrante e um outro por mandado de prisão.

Galdino explica que os bandidos se valiam da ausência de fiscalização dos pacotes para ampliar a área de venda para todo o país. “O entorpecente era vendido em atacado. Eles usavam um veículo para entrega de drogas. Às vezes, eles próprios entregavam, mas também se utilizavam de empresas para efetuar a distribuição das drogas em bairros nobres de Salvador. [...] Não só em Salvador, mas também para outros pontos do país”, diz.

De acordo com informações apuradas pela reportagem, o apartamento do Hotel Astron onde as drogas foram encontradas havia embalagens do Mercado Livre, que faz entregas por todo o país. Em nota, a empresa informou que se colocou à disposição das autoridades para colaborar com as investigações relacionadas à presença das embalagens no local do crime.

"Neste momento, não há evidências sobre a relação das embalagens e o eventual uso da sua rede logística pelos suspeitos. [Reforçamos] ainda que, além de regras claras e de parcerias com o poder público e a iniciativa privada, [combatemos] o mau uso da [nossa] plataforma, dispondo de um processo rigoroso de controle dos pacotes geridos pela rede logística, o que inclui o uso de sistemas de raio-X. A companhia reforça seu compromisso com a segurança das suas operações, a fim de garantir a melhor experiência aos seus usuários", afirma a nota enviada pelo Mercado Livre.

Apesar do uso da empresa para viabilizar a entrega das drogas, o advogado Kleber Freitas, especialista em Direito Público, analisa que o Mercado Livre ou qualquer outro grupo de entrega não deve responder por crime. “Nos termos de contratação de envio de mercadorias, as empresas deixam claro que não se responsabilizam pelo conteúdo das mercadorias, bem como deixam claro que a responsabilidade é exclusiva de quem as envia e recebe, não havendo nenhuma previsão legal de fiscalização”, explica.

Freitas ressalta, porém, que as empresas poderiam ser alvo de responsabilização se não cooperassem com a investigação da polícia. “Cabe ressaltar também que, no presente caso, a única obrigação que recairá sobre a empresa será a de fornecer os dados dos compradores e de todas as transações realizadas na plataforma”, completa o advogado.

Além do envio de drogas para todo o país, a investigação deixou nítida a participação de uma facção criminosa na administração do laboratório. É o que garante a delegada Heloísa Brito, diretora geral da Polícia Civil da Bahia.

"É claro que por trás tem uma facção criminosa. Estamos falando de investimento de mais de R$ 5 milhões, por baixo. Isso é um investimento grande, não é feito normalmente por um traficante só. Isso nos leva a crer que tem sim uma organização criminosa mais forte que estava fazendo essa distribuição e refinamento para consumo aqui no nosso estado", fala a delegada, que salientou a continuidade das investigações para localizar mais laboratórios.

Correio 

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