Morte de supostos assassinos de médicos mostra poder do tráfico


A morte de quatro traficantes supostamente envolvidos na execução de três médicos e tentativa de assassinato de um quarto, na madrugada de quinta (5), é, para a polícia carioca, mais um fato que robustece a principal hipótese investigada para explicar a primeira chacina. Esses fatos, contudo, também evidenciam o poder das facções criminosas, e a incapacidade das autoridades de lidar com elas.

Segundo essa linha de investigação, o ortopedista baiano Perseu Almeida, 33 anos, teria sido confundido com o miliciano Taillon Alcântara Barbosa, filho de Dalmir Pereira Barbosa, líder da milícia que disputa com o Comando Vermelho o controle territorial da zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. Perseu e Taillon têm características físicas parecidas, são brancos de pele clara, calvos, usam barba e óculos.

Além do baiano, também foram assassinados os paulistas Marcos de Andrade Corsato e Diego Ralf Bonfim, irmão da deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP). Daniel Sonnewend Proença foi baleado em diversas partes do corpo, mas sobreviveu ao ataque. Ele está Internado no Hospital Samaritano Barra e seu estado é considerado estável (ver ao lado). Os quatro estavam no Rio para participar de um congresso de ortopedia e, no momento do crime, faziam uma confraternização em um quiosque na Barra da Tijuca, bairro da zona oeste.

A polícia teve acesso a uma interceptação telefônica – fruto de uma investigação em andamento sobre as milícias - em que um integrante do Comando Vermelho informou a comparsas que Taillon estava no quiosque de Naná. Momentos depois, em uma ação que durou menos de meio minuto, três homens chegaram em um carro branco, saem do veículo e abrem fogo contra a mesa ocupada pelos médicos e fogem.

Videoconferência

O engano em relação ao alvo e a repercussão midiática da chacina teriam irritado a cúpula do Comando Vermelho. Ainda segundo a polícia do Rio, os líderes da facção ordenaram, durante uma videoconferência no interior da penitenciária de Bangu 3, também interceptada pela polícia, a morte dos comparsas envolvidos na chacina dos médicos. No Brasil, presos não podem ter acesso a celulares ou computadores.

Também não existe pena de morte no país. Ainda assim, o crime organizado, que tem suas próprias leis e tribunais onde suas lideranças são, a um só tempo, acusadores e juízes. E ainda na noite da quinta, quatro corpos foram localizados: três estavam dentro de um carro na Rua Abrahão Jabour, nas proximidades do Riocentro; e o outro em um segundo veículo, na Avenida Tenente-Coronel Muniz de Aragão, na Gardênia Azul. As duas áreas são disputadas por milícias e facções.

Dois desses corpos foram identificados, como sendo os de Philip Motta Pereira, o Lesk, e o de Ryan Nunes de Almeida, o Ryan. Lesk teria sido a pessoa alertada sobre a suposta presença de Taillon. O aviso teria sido dado por Juan Breno Malta, conhecido como BMW. Lesk rompeu com a milícia e aderiu ao Comando Vermelho, motivo de rixa e ameaças de morte recíprocas entre ele e o pai de Taillon.

A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) do Rio de Janeiro realizou uma operação em Bangu 3 após interceptar a videoconferência que ordenou o assassinato de Lesk e seu grupo. Um número não revelado de aparelhos celulares foi apreendido.

Após cirurgia de dez horas, sobrevivente grava vídeo: ‘tô bem’

Único sobrevivente do ataque que vitimou três médicos, Daniel Sonnewend Proença, de 32 anos, se manifestou pela primeira vez após realizar uma cirurgia de 10 horas. Em seu perfil do Instagram, a jornalista Lu Lacerda publicou, na sexta (6) um vídeo onde Daniel aparece na cama do hospital. "Pessoal, eu tô bem, viu? Tá tudo tranquilo graças a Deus. Só algumas fraturas, mas vai dar certo. A gente vai sair dessa juntos. Valeu pela preocupação. Obrigado!", disse.

Daniel teria levado 14 tiros, sendo dois de raspão, que provocaram 24 perfurações em seu corpo. Segundo o jornal O Globo, o médico teve lesões no tórax, intestino, pélvis, mão, pernas e pé. Dois projéteis ficaram alojados em seu corpo e um foi retirado pelos médicos, que vão encaminhar o material para a Polícia Civil. O quadro de saúde de Daniel é considerado estável e ele respira sem ajuda de aparelhos.

Os três colegas de Daniel que faleceram no ataque foram velados na sexta com a previsão de serem sepultados no sábado (7). O velório de Diego Bonfim, irmão da deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL), começou às 10h, na cidade de Presidente Prudente (SP). A família de Marcos Corsato não informou o local do sepultamento do médico até o fechamento desta edição.

Perseu Almeida foi velado na Loja Maçônica Fraternidade Rionovense, em Ipiaú, interior da Bahia. Até a conclusão desta reportagem, o sepultamento estava agendado para as 9h30, no cemitério Jardim da Saudade I, na mesma cidade. 

Correio

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