Um policial militar foi demitido e outros dois integrantes da corporação receberam punição pelo envolvimento na ocorrência que resultou na morte do artista plástico Manoel Arnaldo dos Santos, mais conhecido como Nadinho, na cidade de Candeias, em março de 2018. A informação foi dada pela Polícia Militar (PM). Na época com 61 anos, o artista foi morto com um tiro nas costas disparado por policiais militares durante uma operação. Ele estava dentro do próprio ateliê, no bairro Santo Antônio.
Os policiais militares, identificados como Edvaldo Nunes de Almeida, Leandro Santos Xavier e Dinalvo do Santos Paixão, todos pertencentes à 10ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Candeias), foram processados administrativamente e criminalmente em 2019, mas seguiam realizando serviços internos, conforme apurado pelo CORREIO em 2020.
De acordo com a TV Bahia, Leandro Santos Xavier foi demitido, enquanto Edvaldo Nunes de Almeida e Dinalvo dos Santos Paixão estão detidos no 10º Batalhão de Choque da PM.
A Polícia Militar informou que a Corregedoria da PM-BA instaurou um inquérito policial militar, que foi concluído e enviado à Justiça, junto comum processo administrativo disciplinar (PAD), que apurou a conduta dos policiais militares. "O PAD concluiu que o policial militar demitido desvirtuou a finalidade constitucional atribuída ao exercício da função pública e a confiabilidade da população na corporação militar baiana. Os outros dois PMs integrantes da guarnição também foram sancionados disciplinarmente com a pena de detenção", completou em nota.
A Polícia Civil foi procurada pelo CORREIO para se posicionar sobre o caso, mas disse que não comenta inquéritos concluídos e indicou o contato com a Polícia Militar.
Relembre o crime
O artista plástico Manoel Arnaldo dos Santos morreu após ser baleado durante uma ação da Polícia Militar dentro de seu ateliê, na noite do sábado 21 de abril de 2018, em Candeias. Segundo os familiares da vítima, PMs entraram no imóvel e já chegaram atirando no homem, que estaria desarmado e desenhando.
Em nota, a PM afirmou, inicialmente, que a morte aconteceu no bairro Santo Antônio, por volta das 20h, após equipe de militares da Operação Força Tática de Candeias receberem um chamado através do Centro Integrado de Comunicação (Cicom), informando que um homem havia invadido uma residência no bairro.
A PM informou que duas equipes estiveram envolvidas nessa ocorrência, cada uma composta por três policiais militares. "Entretanto, apenas uma estava no momento da abordagem do imóvel, a outra equipe chegou em apoio momentos depois", destacou a corporação.
"Ao chegarem no endereço informado, as equipes policiais bateram à porta do imóvel e identificaram-se como policiais militares, contudo o homem que apareceu em uma das janelas recepcionou os policiais empunhando e apontando uma arma de fogo contra os integrantes das guarnições e, segundo o relato dos próprios policiais, teria acionado duas vezes a tecla do gatilho da arma, mas a munição teria falhado. Frente à iminente ameaça, os policiais alvejaram o homem com dois disparos, um atingiu o braço e outro, o tórax", afirmou a PM, em nota.
Na versão da família, os PMs estavam fazendo uma perseguição a assaltantes e entraram na casa de Nadinho. "Eles já entraram metendo o pé na porta e atirando. Não tinha nenhum bandido lá dentro. Ele é uma pessoa de bem. Morava sozinho dentro da casa e nunca foi envolvido com nenhum tipo de crime", afirmou Marcos Alves, sobrinho do artista plástico. O sobrinho ainda disse que os policiais entraram na casa e implantaram uma arma na cena do crime. "Ainda disseram que meu tio tinha pólvora na mão, mas ele não atirou. Era um homem de bem que não tinha nenhum envolvimento. Ele morava nessa casa desde pequeno", complementou Marcos.
Segundo o delegado, o artista foi atingido pelas costas por um dos policiais militares envolvidos na ocorrência. “Três tiros foram disparados na direção da vítima, mas apenas um atingiu-o mortalmente. Os outros dois atingiram a porta e a parede da casa”, disse o delegado titular de Candeias, Marcos Laranjeiras.
Os três policiais admitiram, em depoimento, que não tinham certeza se o que Nadinho tinha na mão era uma arma de fogo. “Eles disseram que viram a vítima com um objeto não identificado na mão. Disseram que não poderiam precisar que existia uma arma de fogo porque já era 21h e estava escuro”, disse o delegado.
O depoimento contradisse a versão oficial da PM à imprensa, em que constava que "o homem que apareceu em uma das janelas recepcionou os policiais empunhando e apontando uma arma de fogo contra os integrantes das guarnições e, segundo o relato dos próprios policiais, teria acionado duas vezes a tecla do gatilho da arma, mas a munição teria falhado. Frente à iminente ameaça, os policiais alvejaram o homem com dois disparos, um atingiu o braço e outro, o tórax".
Em depoimento ao delegado, as testemunhas confirmaram que alertaram os policiais que na residência do bairro Santo Antônio não havia bandidos, mas sim um artista plástico. Nadinho não tinha antecedentes criminais.
Correio
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