Principal polo agropecuário do oeste da Bahia, Luís Eduardo Magalhães (954 km de Salvador) registrou um pico de mortes violentas intencionais em 2022, com taxa de 56,5 assassinatos a cada 100 mil habitantes. Foram 61 mortes violentas, sendo 19 delas resultado de ações policiais.
Esses dados fizeram da cidade baiana a 18ª com maior proporção de mortes violentas do país, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Os indicadores acenderam o alerta das autoridades para o avanço da criminalidade em uma das regiões mais prósperas do estado e de papel primordial para o agronegócio brasileiro.
Com 107 mil habitantes, Luís Eduardo Magalhães é cortada por duas rodovias federais que ligam a Bahia com as regiões Centro-Oeste e Norte do país, localização considerada estratégica para a atuação de facções criminosas.
O agronegócio fez da cidade uma espécie de eldorado, com uma população que flutua no período de plantio e colheita das safras de soja, milho e algodão. A renda gerada pela produção agrícola se tornou um chamariz para criminosos, que viram na cidade um mercado em franco crescimento.
“É uma cidade rica, que vem se desenvolvendo, e por isso tem uma população flutuante. Mas não há uma sensação de insegurança. De certa forma, a criminalidade está controlada”, afirmou o delegado Thiago Folgueira, coordenador da Polícia Civil no oeste baiano.
O comércio ilegal de drogas em Luís Eduardo é dominado da facção BDM (Bonde do Maluco), uma das maiores da Bahia. Nos últimos anos, a cidade foi uma das áreas de atuação do traficante Ednaldo Freire Ferreira, o Dadá, apontado como fundador e um dos principais líderes do BDM.
O traficante ganhou notoriedade em outubro, quando teve a prisão preventiva transformada em domiciliar pelo desembargador Luiz Fernando Lima, do TJ (Tribunal de Justiça) da Bahia. Dadá está foragido e o magistrado foi afastado por meio de uma decisão do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
A prevalência de uma única facção faz com que a dinâmica das mortes violentas esteja mais ligada à compra e venda de entorpecentes. Não há uma disputa entre grupos criminosos pelos pontos de droga, diferentemente do que ocorre em Sorriso, município mais rico do agronegócio brasileiro.
Presidente do Conselho de Segurança de Luís Eduardo Magalhães, Heliton Bettes minimiza o número de mortes violentas e diz que os indicadores não se refletem no cotidiano da cidade.
“A maioria das mortes são acertos dos bandidos entre eles mesmos. São muito raros os casos de latrocínio e assaltos à mão armada contra pessoas de bem.”
No ano passado, foi registrado apenas um latrocínio (quando há roubo e a vítima é morta) na cidade. Mas dados da Secretaria de Segurança Pública mostram crescimento dos crimes contra o patrimônio. O número de furtos de veículos, por exemplo, era 25 em 2021, subiu para 70 casos no ano seguinte e já chegou a 76 no período entre janeiro e agosto deste ano.
O policiamento ostensivo é feito pela Polícia Militar e pela Guarda Municipal, que assumiu parte do trabalho de rondas. O secretário municipal de Segurança Pública, João Paulo Alves, diz que a parceria com a PM tem dado resultados, com a redução dos indicadores de violência ao longo do último ano.
Na zona rural, as maiores fazendas possuem videomonitoramento e segurança privada. Entidades também firmaram convênios com o governo para custear reparos em viaturas e combustível para a polícia.
“A maioria dos produtores se organizam em grupos e, quando dá algum problema em qualquer fazenda, um ajuda o outro. Mas é raro isso acontecer”, afirmou Jaime Cappellesso, vice-presidente do sindicato rural da cidade.
João Pedro Pitombo, Folhapress
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