Lira articulou resposta após críticas do PT ao centrão e foi demovido por aliados

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O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), propôs em uma reunião com líderes partidários nesta terça-feira (12) a divulgação de resposta pública às críticas ao centrão feitas pelo PT, partido do presidente Lula.

De acordo com relatos, Lira, que é um dos principais cardeais do centrão, ficou bastante irritado com a resolução do diretório nacional do PT que qualificou o centrão como força conservadora e fisiológica que deforma a agenda política.

Ao final, entretanto, ele foi demovido da ideia por líderes de partidos da base governista, em especial Antonio Brito (PSD), Isnaldo Leitão (MDB-AL) e Felipe Carreras (PSB-PE).

O argumento usado, segundo participantes da reunião, foi o de que ele se “apequenaria” ao responder a um documento de um partido político, já que ocupa uma cadeira que, além de ser a principal da Câmara, é a segunda na linha sucessória da Presidência da República.

Além disso, o raciocínio apresentado a Lira foi o de que o eleitor dificilmente sabe o que é o centrão e os partidos que o compõem. Uma carta pública poderia representar um tiro pela culatra, o de associar mais precisamente as legendas ao termo, que tem carga pejorativa.

Outro argumento foi o de que a resolução do PT não foi consensual dentro do partido de Lula.

Lula, Lira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, almoçaram nesta quarta-feira (13), no Palácio do Planalto.

O centrão, atualmente liderado por Lira, é um agrupamento de partidos de centro e de direita que, em sua formulação mais recente, foi arregimentado pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (RJ). O grupo envolve hoje PP, Republicanos e PL, além de parlamentares formalmente filiados a outros partidos.

O diretório nacional do PT finalizou na segunda-feira (11) a redação de uma resolução partidária cujo texto-base havia sido aprovado na sexta (8).

O texto afirma que “as forças conservadoras e fisiológicas do chamado centrão, fortalecido pela absurda norma do orçamento impositivo num regime presidencialista, exercem influência desmedida sobre o Legislativo e o Executivo, atrasando, constrangendo e até tentando deformar a agenda política vitoriosa na eleição presidencial”.

A reunião virtual, entretanto, foi marcada por um debate sobre a permanência ou não no texto das críticas ao centrão.

O líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR), propôs uma emenda justamente para suprimir as queixas contra o centrão, sob o argumento de que a menção prejudicava a agenda no Congresso.

O líder petista tinha o apoio dos deputados Washington Quaquá (RJ), Carlos Zarattini (SP), Benedita da Silva (RJ), Juliana Cardoso (SP) e José Guimarães (CE), líder do governo na Câmara.

A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, porém, foi contra alegando que o teor do texto-base já era de conhecimento público desde sexta, por causa de vazamento à imprensa, e que seu impacto já estava precificado.

A presidente do PT disse ainda que não seria por causa de um documento de avaliação política do partido que seriam geradas dificuldades no Congresso junto ao centrão.

O texto acabou sendo mantido sob o argumento de que não havia mais prazo para emendas. A discussão interna durou cerca de duas horas.

Segundo os relatos, Gleisi afirmou ainda que o governo deveria rever cargos e ministérios concedidos ao centrão caso o grupo político use um documento interno do PT como pretexto para impor dificuldades no Congresso.

Desde que o documento petista veio à tona, na semana passada, Lira já havia manifestado a petistas sua contrariedade.

Além do documento, Gleisi disse durante a conferência eleitoral do partido que, se Lula perder popularidade, o PT será engolido pelo Congresso.

“Se cair a popularidade do presidente, vocês não tenham dúvida do que o Congresso vai fazer. Fizeram com a Dilma. Se baixar a popularidade do presidente, esse Congresso engole a gente”, disse.

O Datafolha mostrou nos últimos dias que, na reta final de seu primeiro ano de mandato, o Lula manteve sua avaliação estável. O petista fecha 2023 com 38% de aprovação dos brasileiros, enquanto 30% consideram seu trabalho regular, e o mesmo número, ruim ou péssimo.

O CENTRÃO, DA CONSTITUINTE AOS DIAS ATUAIS

1987
Integrantes de centro-direita de PFL (posteriormente DEM), PMDB (hoje MDB), PDS (extinto), PTB e PL, entre outros, se unem em sustentação ao governo de José Sarney (PMDB)

1988
O grupo está em seu auge, sendo o responsável por barrar da Constituição pontos como o parlamentarismo e aprovar o mandato de cinco anos para Sarney.

  • Roberto Cardoso Alves (1927-1996), do PMDB-SP, que usou a oração de São Francisco de Assis, “é dando que se recebe”, para explicar a relação dos parlamentares com o governo Sarney

1989
Com a corrosão da popularidade de Sarney e a eleição de Fernando Collor (PRN), grupo se dissolve

2004
Embora não fossem rotulados como centrão e não atuassem unidos, PTB, PP e PL agiam em apoio ao governo Lula (2003-2010), do PT, a maior parte deles tendo sido aliada também do antecessor, Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), do PSDB

2005
Estoura o escândalo do mensalão, tendo como pivôs o PT e esses três partidos, em especial

  • Roberto Jefferson (PTB), delator e condenado no escândalo do mensalão

2014
Surge o novo centrão, sob o comando do então líder do MDB, deputado Eduardo Cunha (RJ). Os principais partidos, além do MDB, são PP, PR (atual PL) e PTB

2015
Cunha derrota o candidato do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e é eleito presidente da Câmara dos Deputados

  • Eduardo Cunha (MDB-RJ), um dos principais condutores do impeachment de Dilma Rousseff, acabou sendo afastado do cargo e cassado

2016
Sob o comando de Cunha na Câmara, Congresso aprova o impeachment de Dilma Rousseff (PT). Cunha perde o cargo e o mandato, e é preso no mesmo ano. O candidato do centrão, Rogério Rosso (PSD-DF), é derrotado por Rodrigo Maia (DEM-RJ) na disputa pela Presidência da Câmara

2017
Com o apoio da oposição, Maia derrota outro líder do centrão, Jovair Arantes (PTB-GO), e se reelege. Amparado pelo bloco, Michel Temer (MDB) escapa por duas vezes de ser afastado da Presidência no escândalo da JBS

2019
Unindo o centrão em torno de si, Maia consegue se reeleger para o terceiro mandato consecutivo no comando da Câmara

  • Arthur Lira (PP-AL) o atual principal líder do centrão

2020
Após a adesão do centrão ao governo Jair Bolsonaro (sem partido), em 2019, Maia perde sustentação no grupo. Em fevereiro de 2021, centrão (PP, PL, PTB, principalmente) e o grupo de Maia (DEM, MDB, PSDB e outros) se enfrentam novamente pelo comando da Câmara. Lira leva a melhor e é eleito presidente da Câmara.

2022
Após comandar a base de apoio do governo no Legislativo, Lira também integra a linha de frente da campanha de Jair Bolsonaro à reeleição.

2023
Com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o centrão vira a chave. Em um primeiro momento, Lula negocia apoio com três partidos que não compõem o centrão, MDB, PSD e União Brasil, que ganham nove ministérios. Além disso, fecha acordo para apoiar a reeleição de Lira ao comando da Câmara.

Em setembro, PP e Republicanos, do centrão, acertam o ingresso na base lulista, assumindo os ministérios do Esporte e de Portos e Aeroportos. Lira ganhou também o comando da Caixa. Apesar disso, fatias relevantes desses dois partidos continuam na oposição.

Catia Seabra/Ranier Bragon/João Gabriel/Folhapress

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