"Fomos feridos na alma, e esperamos que atos como esse deixem de acontecer em nosso país", escreveu o Ilê Aiyê na legenda da postagem.
O caso teria ocorrido no restaurante Bistrot Trapiche Adega. A equipe de reportagem entrou em contato com o estabelecimento para pedir um posicionamento sobre o ocorrido e aguarda retorno.
Músicos do Ilê Aiyê, bloco afro mais antigo do país, relatam racismo antes de apresentação em restaurante — Foto: Reprodução/Redes Sociais
A Band’Aiyê teria sido convidada para uma apresentação no restaurante. Ao chegar no local, o grupo pediu informações à produção local de onde seria feita a troca de roupa, já que é utilizado um figurino característico do bloco.
"Foi nos indicado uma sala no espaço [restaurante], para que pudéssemos nos arrumar para o evento. Após um tempo já nessa sala, eis que surge uma senhora, desesperada, pedindo que saíssemos daquele local, que não era para estarmos ali, pois naquele local tinha coisas de valor".
Ainda conforme detalhado na publicação, os responsáveis explicaram que a banda estava naquele espaço para colocar o figurino da apresentação. No entanto, a mulher teria exigido que uma funcionária do estabelecimento ficasse na entrada da sala e que a porta ficasse aberta.
"Fomos tratados como ladrões e não artistas que estavam ali para realizar um trabalho. É claro que a primeira intenção foi sair do local e não realizar a apresentação, mas fomos convencidos pelo contratante a fazer tal apresentação", relatou.
É inadmissível que esse tipo de coisa continue acontecendo na nossa cidade. Alguns brancos e brancas dessa cidade precisam entender que ser negro ou negra não é sinônimo de ser ladrão ou ladra.
'Se não fosse o Ilê Aiyê…'
Bloco Ilê Aiyê — Foto: Divulgação/PMFS
O Ilê Aiyê é considerado o primeiro bloco afro do Brasil e foi criado em 1º de novembro de 1974, quando Antônio Carlos Vovô, Apolônio de Jesus (1952-1992) e outros moradores do entorno da ladeira do Curuzu, na Liberdade, em Salvador, decidiram montar um bloco de carnaval formado apenas por negros. Até hoje, apenas pessoas negras podem desfilar no Ilê.
Desde sua fundação, o bloco se tornou referência na luta contra o racismo, fazendo uma representação positiva do negro e enaltecendo as raízes africanas da cultura nacional.
✊🏾 Os fundadores do Ilê foram inspirados pelas lutas por direitos civis nos Estados Unidos, pelas guerras de libertação contra o colonialismo na África e pelos movimentos estadunidense Black Power e Panteras Negras.
Deusa do Ébano do bloco Ilê Aiyê — Foto: Vitor Santos/Ag Haack
Ao saber da iniciativa do filho Vovô e seus amigos, a ialorixá Mãe Hilda, do terreiro Ilê Axé Jitolu, aprovou a iniciativa, mas pediu que invés de “Povo Negro”, o bloco se chamasse Ilê Aiyê, que em língua iorubá significa “casa” (ilê) e “terra” (aiyê).
Por conta do Ilê, o bairro da Liberdade adquire status de espaço negro de resistência, um quilombo, um “Harlem baiano”.
O Ilê tem como objetivo "africanizar" o carnaval de Salvador e transcender a festa. É tempo de exibir tranças, cabelos black e rastafári, batas africanas e búzios.
A identidade visual do bloco foi criada em 1978, pelo artista Jota Cunha. A máscara africana com quatro búzios abertos na testa e que formam uma cruz foi batizada de Perfil Azeviche. O azeviche é um tipo de mineral negro que é associado ao barro preto das terras de Liberdade e, ao mesmo tempo, à pele negra.
G1
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