Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, preso no último domingo, véspera de Natal, pela Polícia Federal, comandava a maior milícia do estado. Antes de assumir o controle do grupo, ele era encarregado da contabilidade e da lavagem do dinheiro oriundo das atividades ilegais lideradas pelos seus irmãos. Conhecido como o "cérebro" das operações financeiras, ele foi investigado por movimentar R$ 41 milhões em suas empresas e também por usar nome da mãe de um comparsa para movimentar mais de R$ 4 milhões em uma conta bancária.
Segundo as investigações, Zinho usava duas empresas para dar aspecto legal à quantia obtida com as extorsões. De acordo com o Ministério Público do Rio, ele era o responsável por lavar o dinheiro da milícia na sua empresa, Macla Extração e Comércio de Saibro Eireli – EPP, e na Hessel Locação de Equipamentos Ltda. Segundo a Polícia Civil, o grupo chegou a faturar R$ 41 milhões entre os anos de 2012 e 2017.
Durante a investigação do Departamento de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro, os policiais envolvidos descobriram vários assassinatos praticados entre membros da organização criminosa para tomar posse de empresas concorrentes. Uma delas passou a ser administrada pela Macla após o assassinato de seu dono, em 2014.
Na época, Zinho ainda não sabia que seria o chefe o grupo comandado pelos seus irmãos Wellington da Silva Braga, o Ecko, e Carlos da Silva Braga, o Carlinhos Três Pontes. Eles morreram nos anos de 2021 e 2017, respectivamente.
No ano passado, já um dos criminosos mais procurados do Rio, a juíza Alessandra de Araújo Bilac, da 42ª Vara Criminal, o absolveu num processo em que era acusado pelo crime de constituição de milícia privada e desbloqueou os recursos da empresa Macla Extração e Comércio de Saibro, que, segundo a Polícia e o MPRJ, era usada para lavagem de dinheiro.
No comando da milícia há pouco mais de dois anos, Zinho tinha doze mandados de prisão expedidos em seu nome, segundo o governo do estado. A sua lista de crimes do Zinho ainda um esquema milionário de lavagem de dinheiro em que ele teria usado o nome da mãe de um comparsa para movimentar mais de R$ 4 milhões em uma conta bancária. O dinheiro seria uma pequena parte das extorsões praticadas pelo grupo criminoso. As informações constam de um processo que apura crime de organização criminosa, em trâmite na 1ª Vara Criminal Especializada da Capital.
Dados de processos revelam ainda que Zinho responde, entre outras acusações, por ordenar o uso de carros clonados para localizar e executar rivais, por ser mandante da morte do ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, apontado pela polícia como um dos fundadores da milícia, e por determinar o pagamento de propina a policiais para ser informado de operações.
A mesma investigação menciona a ordem de Zinho para oferecimento de propina a policiais civis e militares para ser informado sobre operações para sua captura. Zinho também determinava o uso de carros clonados pelo bando.
Família do crime
Carlos Alexandre da Silva Braga, o Carlinhos Três Pontes, era braço direito de Toni Ângelo e foi cotado para assumir a chefia da antiga "Liga da Justiça". Carlinhos era um ex-traficante que migrou para a milícia e se tornou um dos homens de confiança de Toni. Segundo o MPRJ, Carlinhos ficou conhecido por ser o primeiro miliciano "a costurar a aliança entre a milícia e facções do tráfico de drogas, fenômeno que mais tarde passaria a ser conhecido como narco-milicia".
Em abril de 2017, Carlos da Silva Braga, o Carlinhos Três Pontes, estava na casa de uma de suas mulheres quando foi surpreendido por uma operação do Departamento Geral de Polícia Especializada (DPGE), da Polícia Civil. O imóvel foi cercado pelas equipes, mas segundo o divulgado à época, o miliciano não quis se estregar e chegou a lutar com um delegado. Acabou atingido por um tiro de fuzil no peito.
Carlinhos ainda foi levado para o Hospital municipal Lourenço Jorge, Na Barra da Tijuca, mas não resistiu. Com o criminoso foram apreendidos uma pistola, um fuzil e um revólver.
O irmão Wallace da Silva Braga, conhecido como Batata, foi preso em maio de 2021, em flagrante por agentes da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco), em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio.
Na época, o Disque-Denúncia oferecia R$ 1 mil por informações que levassem ao seu paradeiro. Segundo os policiais, Wallace resistiu à prisão, tentou tomar o fuzil de um dos policiais da Draco e fez ameaças em nome da milícia. Batata foi autuado pelos crimes de coação no curso do processo, resistência e organização criminosa.
Em 2022, Batata chegou a ser condenado a um ano de detenção em regime aberto, mas somente pelo crime de resistência — conseguiu se livrar da acusação de constituição de milícia privada, que poderia levá-lo ao regime fechado. O juiz Marcello Rubioli, responsável pela sentença, alegou que a polícia não conseguiu produzir provas da participação de Batata na milícia. Mesmo assim, sua defesa recorreu da decisão e, em março passado, a 6ª Câmara Criminal o absolveu de todas as acusações.
No mês seguinte, Ecko, que comandava a milícia após a morte do irmão Carlinhos Três Pontes, foi morto. Ele estava na casa da mulher e dos filhos, em 12 de junho de 2021, quando a Operação Dia dos Namorados foi deflagrada. Na ocasião, o Setor de Inteligência da Polícia Civil obteve uma informação de que ele visitaria a família naquele dia.
Quando o miliciano percebeu a presença dos policiais, ele tentou fugir pelos fundos da residência. Acabou sendo interceptado por agentes. Houve confronto e Ecko foi atingido por dois tiros na altura do coração. Ele foi levado de helicóptero para o Hospital municipal Miguel Couto, mas chegou morto à unidade de saúde.
Extra o Globo
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