Lewandowski diz a Dino que deve trocar secretário de Justiça, mas preservará parte da equipe


O primeiro jantar de Flávio Dino e seu sucessor no Ministério da Justiça, Ricardo Lewandowski, teve clima ameno e conversas sobre diversos temas relativos à pasta, como o decreto de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) no Rio de Janeiro.

O encontro ocorreu na noite desta segunda (22). Na ocasião, Lewandowski disse a Dino que deverá manter boa parte da sua equipe, mas que deve trocar cargos considerados estratégicos, como a Secretaria Nacional de Justiça, hoje ocupada por Augusto de Arruda Botelho.

Segundo pessoas próximas, o futuro ministro da Justiça estuda o perfil de uma mulher para ocupar o posto.

Lewandowski já decidiu alterar a secretaria-executiva da pasta, que será ocupada por Manoel Carlos de Almeida. O ministro aposentado do STF (Supremo Tribunal Federal) também escolheu o procurador Mário Luiz Sarrubbo para a Secretaria Nacional de Segurança Pública, uma das mais sensíveis do órgão. Sarrubbo substituirá Tadeu Alencar.

Se a troca de Botelho se confirmar, o PSB perderá as principais estruturas que ocupa no ministério.

Ainda no jantar, Lewandowski elogiou a equipe e a gestão de Dino à frente da pasta, disse que os dois compartilham visões de mundo parecidas e que a transição ocorrerá de maneira natural. Afirmou ainda que pretende dar continuidade às políticas da pasta.

Uma pessoa próxima aos ministros disse que Dino foi generoso em sua explanação, apontando desafios e problemas do ministério. Os dois conversaram ainda sobre questões indígenas e segurança pública.

Participaram do jantar Dino, Lewandowski, o secretário-executivo adjunto da pasta, Diego Galdino, e Manoel Carlos.

Nesta terça (23), ocorre a primeira reunião oficial para falar sobre a transição no Ministério da Justiça. Na abertura, o novo ministro disse estar otimista com o novo cargo e tem o desafio de vencer o problema da segurança pública.

“Quero dizer que estou otimista, estamos com as instituições consolidadas e haveremos, sem dúvida nenhuma, de vencer as dificuldades. Temos o desafio, que é uma preocupação do cidadão comum hoje, com a segurança, a segurança que afeta, a insegurança melhor dizendo, que afeta não apenas as classes mais abastadas, mas também hoje o cidadão comum, o trabalhador”, disse

Na sua visão, o trabalho será de continuidade ao do ministro Flávio Dino, mas com pequenos ajustes.

“Não é bem uma transição, é uma continuidade. O governo é o mesmo. O senhor vai alçar outros voos mais altos do que estes já trilhados como deputado, senador, governador”, acrescenta.

Dino aproveitou para elogiar o novo ministro e o trabalho feito pela sua equipe, dizendo que todos estão na pasta por mérito.

O nome de Lewandowski para substituir Dino foi anunciado em 11 de janeiro pelo presidente Lula (PT).

Nesta segunda (22), no Diário Oficial da União, Lula oficializou a nomeação de Ricardo Lewandowski para o comando do Ministério da Justiça a partir do dia 1º de fevereiro.

Dino seguirá no governo até o dia 30, para comandar a transição. Ele deixará a pasta para assumir uma vaga no Supremo. Seu nome foi sabatinado e aprovado pelo plenário do Senado em dezembro passado.

Lewandowski deixou o STF em abril passado, ao completar 75 anos —idade máxima para ministros da corte. Ele foi substituído na ocasião pelo advogado de Lula, Cristiano Zanin.

O jurista foi indicado para o Supremo pelo próprio Lula, em 2006. Ele chefiou a corte de 2014 a 2016, tendo inclusive presidido o julgamento do impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT).

Lewandowski sempre foi visto como o único ministro do STF que se manteve fiel ao PT até nos piores momentos, como no auge da Operação Lava Jato, enquanto outros indicados pelo partido à corte deram decisões desfavoráveis à sigla e fizeram acenos à direita nesse período.

Quando presidiu no Senado o julgamento do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), chancelou uma manobra regimental que fracionou a votação.

Ele permitiu a votação em separado da perda de mandato de Dilma e da inabilitação para exercer funções públicas por oito anos. O Senado rejeitou a inabilitação, mantendo os direitos políticos da petista.

Com isso, apesar de ter que deixar a Presidência da República, Dilma não ficou impedida de exercer atividade política —e pôde, por exemplo, concorrer ao Senado em 2018.

No julgamento do mensalão, ele votou para absolver o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino, mas foi voto vencido.

Julia Chaib/Raquel Lopes/Folhapress

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