Em pouco mais de três anos, 67
policiais foram alvos do Grupo Especial de Combate às Organizações
Criminosas (Gaeco) do Ministério Público da Bahia (MP-BA) em operações
por integrar milícias ou grupos de extermínio.
Segundo
levantamento feito pelo O Globo junto ao MP-BA, as quadrilhas de
agentes de segurança estão espalhadas por 16 cidades de Norte a Sul do
estado, do interior à Região Metropolitana de Salvador, e dominam desde
grandes municípios a pequenos povoados em áreas rurais. São elas:
Acajutiba, Água Fria, Barreiras, Camaçari, Cansanção, Feira de Santana,
Inahmpube, Itabuna, Juazeiro, Lamarão, Paulo Afonso, Piatã, Santaluz,
Santa Maria da Vitória, Santo Estevão e Valente.
O
cenário é alarmante. Conforme a apuração, o número de policiais
acusados de integrar milícias explodiu em 2023: foram 23 agentes alvos
em sete operações diferentes – número maior do que a soma dos dois anos
anteriores.
O
aumento coincide com a escalada de mortes em operações da polícia
baiana nos últimos anos. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
confirmam que de 2019 a 2022, homicídios decorrentes de ações policiais
passaram de 773 para 1.464 na Bahia.
CASOS
Em
abril de 2021, o mototaxista Alex Cirino foi interceptado em um sinal
de trânsito na cidade de Paulo Afonso. Suspeitos que ocupavam uma
Amarok, autores da abordagem, desceram do veículo e colocaram Cirino à
força na caminhonete.
Para
o MP-BA, o mototaxista foi sequestrado e morto por uma milícia formada
por PMs do batalhão da cidade. Ele era a principal testemunha de
acusação de um processo contra a quadrilha. Atualmente, um capitão e um
soldado respondem pelo assassinato e pela ocultação de cadáver do
mototaxista. Outros 14 policiais do batalhão da cidade respondem por
crimes relacionados à atuação da milícia.
No
caso de Paulo Afonso, a investigação revelou também que homicídios
cometidos em operações do batalhão local eram, na verdade, ações de
extermínio da milícia (saiba mais).
Em
agosto do ano passado, a Justiça determinou que quatro policiais
militares e um policial civil fossem afastados por integrarem uma
quadrilha suspeita de mais de uma dezena de homicídios nos municípios de
Santaluz, Valente e Cansanção.
No
começo do mês de dezembro, o Gaeco e a Polícia Federal deflagraram
operação contra uma das milícias mais antigas do estado, que atua há
quase 20 anos em Feira de Santana. A investigação aponta que o chefe do
grupo é o deputado estadual Binho Galinha. Três PMs foram presos,
acusados de serem o braço armado do político.
Outras
investigações mostram que empresas de segurança são usadas como fachada
para a ação de milícias de policiais no estado. A exemplo de Piatã,
onde o grupo paramilitar local passou a assaltar comerciantes para
forçá-los a contratar os serviços de segurança particular da empresa do
chefe da milícia, um sargento da PM. Quem não paga ao grupo, tem seu
comércio roubado.
Já
em Santa Maria da Vitória, um investigador da Polícia Civil é réu sob a
acusação de formar uma milícia com funcionários de sua firma de
vigilância. Conforme investigação, em junho de 2022, o investigador
Marcelo Gonçalo Dantas e seus capangas passaram a ameaçar moradores de
uma comunidade tradicional e um mês depois, mais de dez homens armados e
com rostos cobertos com toucas entraram na região dando tiros para o
alto e atearam fogo nas casas, onde havia até idosos.
Ao
O Globo, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) destacou
que o órgão criado pelo governo para investigar policiais realizou, em
2023, 19 operações, em que 108 pessoas foram alvos de mandados de prisão
ou de busca e apreensão.
Fonte: Bahia Notícias
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