O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) trabalha para emplacar o ex-ministro Guido Mantega como diretor-presidente da Vale. O chefe do Executivo escalou aliados para articular entre os acionistas a indicação para o comando da empresa.
Uma negociação considerada mais fácil pelo Palácio do Planalto seria indicar Mantega para um dos dois assentos do conselho de administração ocupados pela Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil. No total, o colegiado tem 13 vagas e a remuneração mensal de cada integrante é de R$ 112 mil.
Assim, o ex-ministro da Fazenda iniciaria os trabalhos internamente e pavimentaria o caminho para suceder o atual diretor-presidente, Eduardo Bartolomeo.
No entanto, Lula tem afirmado a aliados que quer Mantega à frente da direção da Vale já no começo deste ano, em vez da recondução de Bartolomeo.
A avaliação de pessoas próximas ao chefe do Executivo é que o movimento da Cosan (acionista da Vale) para assumir o comando da companhia abriu uma brecha para que o governo também se articule para emplacar um aliado no lugar do atual diretor-presidente.
Na visão de Lula, Mantega é injustiçado por ser apontado como responsável pela crise econômica desencadeada no governo de Dilma Rousseff (PT). A chefia da Vale seria uma forma de retribuir os serviços prestados pelo ex-ministro, que comandou a Fazenda de 2006 a 2015 —nas gestões de Lula e de Dilma.
No entanto, interlocutores de Lula mencionam nos bastidores que essa não é uma articulação fácil e que é necessário fazer movimentos discretos junto aos acionistas da empresa.
Uma das apostas do Planalto seria contar com a ajuda, por exemplo, da Mitsui. A empresa japonesa é uma das principais acionistas da Vale e, de acordo com relatos, costuma prezar por manter uma boa relação com o governo.
A intenção de Lula é que a Vale seja uma parceira estratégica do governo em medidas para alavancar a economia e em projetos da atual gestão federal, como a questão da transição energética e a pauta ambiental.
Por ora, porém, ainda não há consenso entre os acionistas privados sobre o melhor caminho a ser seguido pela Vale. Ainda que tenha o capital pulverizado, a gestão da empresa sofre forte influência de grandes acionistas, como Bradesco, Previ e Mitsui.
Duas grandes gestoras globais de investimentos, a BlackRock e a Capital Group, também têm fatias relevantes na companhia, que nos três primeiros trimestres de 2023 acumulou lucro de R$ 27,9 bilhões.
A decisão sobre o novo comando da mineradora pode ser debatida em reunião do conselho de administração marcada para 31 de janeiro. O conselho tem a palavra final sobre o novo presidente — podendo, inclusive, reconduzir Bartolomeo, que já disse que não gostaria de sair.
A composição atual do colegiado tem oito membros independentes, escolhidos por investidores institucionais, dois representantes da Previ, um do Bradesco, um da Mitsui e um representante dos trabalhadores da companhia.
Seus mandatos têm vigência até 2025, um empecilho adicional aos planos do governo, já que a indicação de um novo membro dependeria da renúncia ou da transferência de algum membro para novo cargo. A substituição de um dos indicados pela Previ seria outra opção.
A pressão por influência na mineradora repete histórico do segundo mandato de Lula, quando o presidente teve embates com o ex-presidente da empresa Roger Agnelli, que tocava um plano de internacionalização das operações.
Agnelli deixou o cargo em 2011. Foi substituído por Murilo Ferreira, visto à época como candidato preferido da ex-presidente Dilma Rousseff.
Naquele momento, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tinha também participação relevante na empresa, o que facilitava os planos do governo. A fatia, porém, foi vendida durante o governo Jair Bolsonaro (PL).
Catia Seabra/Matheus Teixeira/Folhapress
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