No início da manhã, um funcionário de uma empresa que fornece serviço de internet foi morto no local de trabalho no Tororó. No Subúrbio, um homem foi retirado de casa e executado em via pública em Paripe. À tarde, no mesmo bairro, um jovem foi baleado diversas vezes no estacionamento de um supermercado e não resistiu. Os três casos aconteceram na terça-feira da semana passada (23) e têm mais uma coisa em comum: características de “acerto de contas”, ou seja, essas vítimas tiveram as vidas ceifadas porque contrariaram de alguma forma o tráfico de drogas.
A Rua Amparo do Tororó é conhecida por ser formada por moradores antigos do bairro e por isso tranquila. No entanto, na terça, a calmaria foi quebrada com os seis tiros que mataram Rafael Silva de Jesus, de 29 anos, por volta das 9h30. Ele tinha acabado de chegar para mais um dia de trabalho quando foi baleado por encapuzados. Rafael era o motorista e se preparava para sair com a dona da empresa quando os criminosos chegaram em um carro. “Chamaram o nome dele. Quando respondeu: 'diga', atiraram”, contou um morador. No local, os peritos do Departamento de Polícia Técnica recolheram cápsulas de pistolas 9 mm.
Mas o que está por trás da morte ? O caso ainda é mistério. “Ele não era de andar armado e nem de briga, mas subia e descia com pessoas envolvidas (com o tráfico). Pode ter sido isso”, disse um morador. Segundo ele, a poucos metros da cena do crime está a casa de um traficante, amigo de infância da vítima. “É o líder do Comando Vermelho (CV) do Garcia, ‘Chiquinho’. Saiu daqui escorraçado Os dois cresceram juntos aqui e já foram vistos várias vezes juntos”, disse o morador, que acredita que o Bando do Maluco pode estar por trás do crime, pois é o BDM quem controla o tráfico no Tororó.
Outra hipótese que teria irritado o BDM estaria ligada ao ofício de Rafael. Na empresa, além de motorista, ele também fazia o serviço de instalação de internet. “Falam também que ele estava fazendo instalações por fora para uma facção”, disse a fonte. O CV se estabeleceu em Salvador em 2020 e, desde então, vem adotando práticas já comuns no Rio de Janeiro, como a extorsão de comerciantes e a exploração clandestina de serviço de telefonia e internet – bairros como Lobato, Cosme de Farias, Tancredo Neves e Engenho Velho da Federação já sofrem com os problemas.
"Vira-folha”
Já os outros dois casos de "acertos de contas" aconteceram com dois jovens moradores de Paripe. Um deles é Thiago Batista Gomes, de 18, conhecido como "Thcu", que foi executado no estacionamento do supermercado Atacadista na Avenida Afrânio Peixoto. Testemunhas contaram que ele chegou em uma moto com outro rapaz . Logo atrás, estava um carro, que dele desceram quatro homens que em seguida executaram Thiago. O rapaz que estava com "Thcu" fugiu do local com o celular dele. Ainda segundo testemunhas, a vítima estava com uma arma de fogo.
De acordo com um amigo da família da vítima, a mãe disse que o filho chegou a ser conduzido à delegacia por tráfico “no passado” . “Passou uma noite preso”, contou. Diante das circunstâncias, ele acredita que Thiago foi vítima de uma emboscada. Isso porque dias antes do crime surgiram algumas postagens nas redes sociais com tom de ameaça a Thiago, acusando-o de traidor. "Você não é digno de fica na terranão judas. Vc vai morrer com o próprio ferro que vc matou o pvt que vc traiu. 'Thcu' da ******** (sic)", diz a a mensagem na foto da vítima. Para entrar no CV, Thiago teria cumprido uma “prova” de lealdade: matar um dos seus ex-comparsas do BDM.
Ainda na última terça-feira, em Paripe, a Rua Santo Porto acordou com uma saraivada de tiros, por volta das 7h. Leonardo Santos da Silva, de 30, foi arrancado de casa por um grupo de homens armados e levado para uma travessa e lá morto, próximo a uma fábrica abandonada.
Um vizinho de Leonardo disse que a família está arrasada. “Não se envolvia com nada, por isso é a dor maior da mãe. Se andasse com gente torta, todo mundo entenderia, inclusive os parentes, mas não foi o caso. Era um jovem trabalhador. A mãe achava que alguém pode ter inventado alguma coisa e sobrou para o filho dela”, disse a fonte. A reportagem não conseguiu falar com a mãe da vítima.
Segundo a Polícia Civil, os três casos são apurados pela 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS). Sobre o inquérito que apura a morte de Rafael, o PC disse que “oitivas estão sendo realizadas e imagens de câmeras de segurança do local serão analisadas”. “Outras diligências investigativas vão auxiliar no esclarecimento da autoria e motivação do crime”, informou a nota.
Em relação à morte de Thiago, a PC informou que “ depoimentos estão sendo coletados e diligências investigativas são realizadas para identificar o autor e esclarecer a motivação do crime”.
Já sobre Leonardo, a PC declarou que “diligências investigativas já estão sendo realizadas para esclarecer as circunstâncias, bem como a autoria e motivação do crime”. “Imagens de câmeras de segurança foram solicitadas para ajudar na identificação do autor”. encerrou a nota.
Correio 24 horas
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