O soldado que denunciou ter sofrido agressões no curso de formação do Batalhão de Policiamento de Choque (BPChoque) da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) passou seis dias internado na unidade de terapia intensiva (UTI). Danilo Martins, 34 anos, ficou com hematomas na lombar, no joelho, além de lesões cerebrais que afetaram visão e audição dele.
Danilo relatou que foi agredido na última segunda-feira (22/4), por um grupo de militares da PMDF. O soldado afirmou que as agressões começaram após ele se recusar a desistir da formação no curso do BPChoque.
Uma parente de Danilo, que pediu para não ter o nome divulgado, contou que o soldado levou uma pancada na cabeça e, por isso, sofreu a lesão na lombar.
“Ele apanhou nos joelhos, nas costas, na cabeça, no estômago, no rosto, nos braços. Quando chegamos ao hospital, ele estava com um quadro de rabdomiólise grave. Isso acontece quando a fibra muscular se rompe, e ela solta uma toxina que envenena o rim. Por causa do quadro, ele teve insuficiência renal e precisou ser internado com urgência na UTI”, relatou.
Os exames também revelaram que Danilo sofreu uma lesão cerebral que lhe afetou a visão e a audição. “Ele não enxerga 100%. A imagem vai sumindo. Ele está com fotofobia, com lesão na medula da lombar e sente muita dor nela, fora todos os hematomas”, completou a parente do soldado.
O laudo médico revelou, ainda, uma lesão no joelho do militar. O aspirante ao grupo de Patrulhamento Tático Móvel (Patamo) sofreu uma ruptura do menisco medial, o que resulta de uma lesão ou força traumática aplicada à área, localizada na parte interna da articulação da perna. Danilo foi liberado da UTI no sábado (27/4) e foi para casa no domingo (28/4).
Veja imagens dos hematomas e ferimentos:
Ferimentos e grandes hematomas espalhados pelo corpo do policial militar torturado durante um curso de formação de Patrulhamento Tático Móvel da corporação demostram a gravidade da situação vivida pelo PM. Material cedido ao Metrópoles
Prisões e suspensão do curso
Após denúncia da suposta agressão e tortura, apurada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), a Justiça (TJDFT) determinou a prisão de PMs, a suspensão do curso do BPChoque e o afastamento do comandante do batalhão, Calebe Teixeira, das atividades de formação até o fim das investigações.
O segundo-tenente Marco Aurélio Teixeira, coordenador do curso e mencionado nominalmente pelo soldado agredido, está entre os policiais presos na manhã desta segunda-feira (29/4). As determinações judiciais da Auditoria Militar e Vara de Precatórias do Distrito Federal atendem a pedido da 3ª Promotoria de Justiça Militar do (MPDFT).
Confira quem teve a prisão decretada:
- Marco Aurélio Teixeira, segundo-tenente
- Gabriel Saraiva, segundo-tenente
- Daniel Barboza, subtenente
- Wagner Santos, primeiro-sargento
- Fábio de Oliveira, segundo-tenente
- Elder de Oliveira Arruda, segundo-sargento
- Eduardo Ribeiro, segundo-sargento
- Rafael Pereira Miranda, terceiro-sargento
- Bruno Almeida, terceiro-sargento
- Danilo Lopes, cabo
- Rodrigo Dias, soldado
- Matheus Barros, soldado
- Diekson Peres, soldado
- Reniery Santa Rosa, capitão
Os militares presos ficarão no 19º Batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal, dentro do Complexo Penitenciário da Papuda.
Por meio de nota, Marcos Barrozo, advogado de Danilo, reforçou que o soldado foi “submetido a atos de extrema crueldade, que resultaram em sérias lesões físicas e traumas psicológicos, os quais deixarão marcas profundas na vida dele”.
“O curso de formação, que deveria ser um espaço de aprendizado e preparação para o exercício da
função pública, transformou-se em um cenário de horror e violência
inaceitável. A tortura, além de ser crime inafiançável e equiparado a
hediondo, causa traumas físicos e psicológicos irreversíveis à vítima,
violando direitos fundamentais e deixando marcas indeléveis na vida”,
ressaltou o advogado.
Marcos também cobrou uma “investigação rigorosa e imparcial sobre o ocorrido, bem como a responsabilização dos envolvidos, sejam eles quem forem”.
Defesa dos PMs
Também por meio de nota, o advogado Marcelo Almeida, responsável pela defesa de 12 dos PMs denunciados, afirmou que, “em momento algum, os referidos policiais militares foram notificados para prestar quaisquer tipos de esclarecimentos sobre os fatos objeto da operação, seja pelo Departamento de Controle e Correição da PMDF ou mesmo pelo MPDFT”.
O advogado acrescentou que os clientes dele foram “apenas surpreendidos, na manhã desta segunda-feira [29/4], com as respectivas prisões, razão pela qual a defesa técnica buscará levar as versões deles aos autos, para que, então, o Poder Judiciário possa aplicar o direito da melhor forma”.
Posicionamento da corporação
Em resposta, a PMDF comunicou que, durante as atividades do curso do Patamo, na última segunda-feira (22/4), um militar pediu desligamento das atividades após passar pela etapa inicial da formação e pelos exercícios físicos previstos.
“Apesar de sair do batalhão alegando que estava bem, o referido aluno procurou atendimento hospitalar, apresentando quadro compatível com rabdomiólise e alegando ter sido agredido.”
A Corregedoria da PMDF instaurou inquérito policial militar para apurar o caso. “O coordenador do curso solicitou o desligamento voluntário para que as apurações transcorram da forma mais transparente possível”, continuou a corporação.
Na noite desta segunda-feira (29/4), a PMDF divulgou nova nota, na qual informou que a corporação “não admite desvios de conduta e apura os fatos de maneira criteriosa e imparcial, observando todo o procedimento legal e permitindo a ampla defesa dos envolvidos”.
“A Polícia Militar ressalta que, ao tomar conhecimento dos fatos, instaurou inquérito policial militar de imediato. Por fim, a corporação reforça que não comenta decisões judiciais”, concluiu o texto.
Fonte:Metrópoles
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