O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PRD-SP) deu provas de que avança na estratégia de reabilitação política, ao menos entre os antigos colegas. Cassado há oito anos por uma maioria esmagadora, de 450 votos a 10, o capitão do impeachment de Dilma Rousseff (PT) foi um dos mais prestigiados na festa de aniversário do deputado federal Marcos Pereira (Republicanos-SP). Um beija-mão se estendeu noite adentro. Entre abraços saudosos, o ex-deputado foi chamado de “presidente” até pelo comunista Renildo Calheiros (PCdoB-PE).
Em cada conversa, o expoente do Centrão era questionado sobre o fato político do dia: a confirmação, pelo plenário da Câmara, da prisão do deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), suspeito de mandar matar Marielle Franco. Para Cunha, os deputados “erraram feio” e abriram um precedente “perigoso” para novas prisões de parlamentares. Foi a sinalização à classe política de que sua passagem pela cadeia, no âmbito da Operação Lava Jato, não o fez perder o corporativismo.
Conhecido pelo faro político aguçado, Cunha rechaçou a tese de que o líder do União Brasil, Elmar Nascimento, teria perdido votos na corrida à presidência da Câmara ao defender a soltura de Brazão. Na sua avaliação, o raciocínio é outro. “O que marca um deputado perante a Casa é como ele atua, principalmente na adversidade”, afirmou. Ele vê Elmar como favorito na eleição interna. O deputado baiano disputa a indicação de candidato com Marcos Pereira, o anfitrião da festa, e com o colega Antônio Brito (PSD).
Cunha chegou à festa por volta das 21h30. Em ao menos duas “rodinhas”, negou taxativamente ter trabalhado pela soltura de Chiquinho Brazão, como circulou nos bastidores do Congresso. “Eu nem conheço metade dos líderes da Câmara atual”, destacou, enquanto conversava com a bancada do PP de Lira.
Daniela Cunha, filha do ex-presidente do “sindicato dos parlamentares”, como ele era chamado nos corredores de Brasília, fez, porém, uma defesa enfática do colega preso.
O convescote de Marcos Pereira uniu petistas, bolsonaristas, ministros do Supremo Tribunal Federal e do governo Lula, governadores e parlamentares em uma clara demonstração de força para suceder Arthur Lira no comando da Câmara. Em busca de apoio do Planalto e da oposição, Pereira não votou no caso Brazão.
Perto das 21 horas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou para o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e o parabenizou pela votação que manteve Brazão na cadeia. O intermediário foi o chefe da segurança presidencial, Valmir Moraes da Silva, já que Lula não usa telefone celular.
Eduardo Gayer/Vera Rosa/Augusto Tenório/Estadão
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