Chefe da PF diz não poder afirmar se Abin de Lula está ou não contaminada

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Em meio a uma rivalidade de bastidores dentro do governo Lula, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou não poder dizer se a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) está ou não contaminada.

Em entrevista à CNN Brasil que foi ao ar na noite deste sábado (27), Andrei demonstrou ainda estranhamento com a possível substituição da corregedora da agência de inteligência, classificada por ele como “uma pessoa corretíssima” e que estaria contribuindo com as investigações da PF.

As cúpulas das duas instituições do governo Lula estão em atrito devido às investigações da PF sobre a existência de uma “Abin paralela” durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL) para perseguir adversários, magistrados e jornalistas.

As operações autorizadas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) já resultaram em busca e apreensão na sede da Abin e na saída do número 2 da agência, Alessandro Moretti.

De acordo com relatórios da PF nessa investigação, a atual gestão da Abin, comandada pelo ex-diretor-geral da PF Luiz Fernando Corrêa, teria tentado atrapalhar as apurações. Integrantes do atual comando da agência negam e, nos bastidores, dizem haver motivações políticas nessas acusações.

“Eu não posso afirmar se há conluio [entre a atual gestão da Abin e a gestão passada], se não há. É uma questão que, se houver ou não, será elucidado e esclarecido no inquérito policial”, disse Andrei na entrevista.

O delegado afirmou que “o que se viu” são pessoas de dentro da agência que “utilizaram as ferramentas disponíveis, utilizaram a sua expertise, seu conhecimento, a estrutura da instituição” para atos não afetos à instituição.

“Eu não posso asseverar se [a atual Abin] está contaminada ou não. Porque, repito, não me cabe avaliar a atual gestão da Agência Brasileira de Inteligência. Me cabe apenas, como eu digo, repito e não canso de enfatizar, orientar nossa equipe que trabalhe com muita técnica, com muita seriedade, com qualidade daquilo que estão fazendo, e responsabilidade.”

Apesar de dizer não querer se imiscuir na gestão da agência de inteligência, o chefe da PF manifestou estranheza pela notícia da troca da corregedora da Abin, a oficial de inteligência Lidiane Souza dos Santos, pelo delegado da PF José Fernando Moraes Chuy, ligado ao ministro do STF Alexandre de Moraes.

“Eu desconheço essa troca. Formalmente, a Polícia Federal não recebeu nenhum expediente para a cessão eventual desse servidor ou não”, disse, acrescentando conhecer Chuy e considerá-lo um profissional sério e dedicado.

“Agora, é importante ressaltar, esclarecer muito fortemente isso, a atual corregedora é servidora da Abin e tem auxiliado não só a correção dos processos, junto inclusive à própria CGU [Controladoria-Geral da União], mas também a Polícia Federal, ao contrário do que alguns dizem”, prosseguiu Andrei.

O chefe da PF disse ainda que Lidiane tem sido muito correta no trabalho que tem feito na agência e diligente com as medidas da polícia autorizadas pela Justiça.

“Eu diria, em primeiro lugar, que a atual corregedora é uma pessoa corretíssima, que desempenha seu trabalho. E que eu desconheço formalmente qualquer movimento para que haja uma substituição. Me parece que ela teria ainda mais dois anos à frente da corregedoria, mas isso é uma questão interna da agência que não me compete.”

O mandatado da corregedora é de dois anos e vence em agosto. Ele pode ou não ser renovado, a critério do comando da agência.

Também na entrevista à CNN, Andrei afirmou que a Procuradoria-Geral da República tem elementos suficientes para denunciar Bolsonaro no caso das joias e da suspeita de falsificação de cartão de vacinação contra a Covid-19 —em ambos já houve indiciamento por parte da PF.

Como mostrou a Folha, as entrevistas do diretor-geral da PF sobre investigações em andamento e sob sigilo se tornaram frequentes no governo Lula (PT).

Em algumas situações, o chefe da corporação antecipa avaliações jurídicas sobre trabalhos ainda sem conclusão, dizendo já estar certo de que há provas ou apontando crimes em inquéritos que ainda estão em andamento.

Normalmente, esses comentários tratam de inquéritos cujo resultado têm interesse direto do governo ou dos aliados do presidente. Já em situações que constrangem a gestão federal, como o inquérito que mira o ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), o diretor-geral é mais discreto.

Ranier Bragon, Folhapress

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