A tensão popular que tomou conta da Venezuela, após a proclamação da suposta vitória de Nicolás Maduro nas eleições de domingo (28/7), já gerou centenas de prisões, mortes e confrontos em diferentes regiões do país. Diante do quadro, Maduro anunciou que as Forças Armadas estarão nas ruas a partir desta quarta-feira (31/7).
Apesar das pressões, não só internas, mas também externas, com vários países exigindo a divulgação das atas de votação, Maduro voltou a falar nessa terça-feira (30/7), dando a entender que fará de tudo para conter os movimentos de oposição e os protestos que se espalham pelo país.
Em conformidade com esse posicionamento, o ministro da Defesa, Vladmir Padrino López, também fez questão de rechaçar as manifestações, definindo-as como “tentativas de golpe de estado” e “atos terroristas” que atendem a “interesses do imperialismo norte-americano”. “Trata-se do fascismo em sua máxima expressão”, disse o militar.
O ministro fez discurso ao lado de comandantes das Forças Armadas Bolivarianas, no qual expressou apoio incondicional a Maduro. A imagem dele, amparado pelos figurões do exército venezuelano, passou uma mensagem clara: todos juntos pelo chavismo e contra as manifestações.
Até essa terça-feira, pelo menos 749 pessoas já tinham sido presas, segundo o procurador-geral do país, Tarek William Saab. Além disso, 11 mortes foram contabilizadas, de acordo com a ONG Foro Penal, que registra os casos de violência nas manifestações.
Entre os detidos, está o líder opositor Freddy Superlano, integrante do partido Voluntad Popular. A captura do político ocorreu à luz do dia e foi registrada em imagens. Entre os mortos, constam dois adolescentes, de 15 e 16 anos.
Temor
A situação repete o que já ocorreu em anos anteriores. Em 2017, um ano antes da última eleição presidencial, o país viveu por mais de 30 dias uma onda de protestos contra a continuidade de Maduro no poder. Ao todo, mais de 717 pessoas foram detidas e 35 morreram.
A eleição de 2018 teve a maior abstenção registrada na Venezuela em duas décadas. O pleito foi marcado por denúncias de fraude e irregularidade, assim como ocorre desta vez. O temor agora é pela repetição da repressão contínua e sistemática, com mais mortes e registros de confronto.
A escalada de violência gera preocupação. O diretor da ONG Foro Penal, Alfredo Romero, mencionou nessa terça, ao divulgar a atualização do número de mortes, a presença e o uso de armas de fogo nas manifestações.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Karien Jean-Pierre, também condenou o uso de violência na contenção dos protestos. “Qualquer repressão política ou violência contra manifestantes ou opositores é obviamente inaceitável”, disse.
Maduro fala em batalha e expulsão de demônios
Em discurso durante reunião do Conselho de Estado nessa terça, Maduro acirrou a fala. “Essa gente pretende governar o país com a delinquência, a criminalidade, a violência, a extorsão, a perseguição e a morte”, disse ele, após responsabilizar a oposição pela violência dos protestos.
O presidente fez, ainda, uma analogia com o filme “O Exorcista”, ao dizer que os manifestantes foram induzidos e contaminados pela ideologia de um suposto demônio: “o imperialismo dos EUA, o narcotráfico da Colômbia e a direita extremista de todo o mundo”.
“Nos cabe controlar essa agitação e esses ataques. (…) Esses são os últimos possuídos pelo diabo, pelo demônio em retirada. A batalha de 28 de julho [eleições] foi a batalha definitiva contra o fascismo, contra o ódio, contra a intolerância e contra aqueles que querem me impor uma guerra civil na Venezuela”, complementou.
Metrópoles
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