O Partido Trabalhista conseguiu uma vitória expressiva nas eleições do Reino Unido, nesta sexta-feira (5), segundo os primeiros dados oficiais.
Os Trabalhistas garantiram a maioria parlamentar, com 326 assentos e poderão indicar o próximo primeiro-ministro — o líder Keir Starmer.
Minutos antes do resultado da maioria parlamentar sair, o primeiro-ministro e líder do Partido Conservador, Rishi Sunak, admitiu a derrota, dizendo às pessoas na contagem do seu assento: “Sinto muito”.
“O Partido Trabalhista venceu estas eleições gerais”, disse Sunak, acrescentando que ligou para Starmer para parabenizá-lo e conceder a eleição.
O líder Trabalhista, por sua vez, disse que o país está “pronto para a mudança” depois de conquistar o seu assento no Parlamento do Reino Unido, pelo norte de Londres.
“Eu prometo o seguinte: quer você tenha votado em mim ou não, servirei todas as pessoas neste distrito eleitoral”, disse Starmer.
Com o resultado das eleições, o país entra em uma nova era política com a derrota dos Conservadores, que estão há 14 anos no poder.
A vitória do Partido Trabalhista também marca um movimento para a esquerda dentro do Reino Unido, na contramão da onda conservadora que tem levado legendas de ultradireita a excelentes resultados em países como Itália, França e Alemanha, além do Parlamento Europeu.
Votação histórica
Os britânicos foram às urnas na quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo Parlamento e governo nas eleições gerais.
A pesquisa de boca de urna feita pelo Ipsos da BBC, ITV e Skynews, divulgada após o encerramento da votação apontou que o Partido Trabalhista iria eleger 410 parlamentares, contra 131 do Partido Conservador.
A eleição revelou a opinião da população sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.
A votação antecipada foi convocada por Rishi Sunak. O então primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma data para a eleição até janeiro de 2025.
Quem é o Líder do Partido Trabalhista?
Ex-advogado de direitos humanos, Keir Starmer atuou como o procurador geral da Inglaterra e do País de Gales.
Com 61 anos, casado e com dois filhos, Starmer entrou para a política tarde e só foi eleito um parlamentar trabalhista em 2015. Menos de cinco anos depois, foi escolhido para liderar o partido.
O britânico foi o secretário do Brexit no gabinete paralelo (“shadow cabinet”) dos trabalhistas durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.
Ele herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em muitas décadas, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo que manchou a posição do grupo com o público.
Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios.
Contudo, seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.
O político promete muitas mudanças, na tentativa de gerar mais crescimento econômico com disciplina fiscal. Além disso, Starmer diz que vai ampliar muito os investimentos em áreas sociais como saúde, educação e para os governos locais.
Em política externa, o trabalhista vai continuar a política de apoio incondicional à Ucrânia na guerra contra a Rússia. Ele também vai apoiar o direito de Israel se defender na guerra em Gaza, mas afirma que pretende reconhecer o Estado da Palestina.
O que acontece agora?
Assim que saem os resultados da eleição, o primeiro-ministro derrotado pede demissão e é despejado imediatamente da residência oficial, em 10 Downing Street, abrindo lugar para o sucessor.
O processo funciona dessa forma há mais de 200 anos, com um ritual que também envolve o monarca – que não tem funções políticas, mas apenas cerimoniais.
O primeiro-ministro derrotado, Rishi Sunak, pede uma reunião privada com o rei Charles III logo na manhã do dia seguinte ao pleito. Durante o encontro, ele apresenta formalmente a sua renúncia e o monarca aceita, com efeito imediato.
Por volta das 11h00, o líder do partido vencedor, Keir Starmer, se dirige ao Palácio de Buckingham para ter sua primeira reunião privada com o rei.
No encontro, chamado de “beija-mão”, o monarca faz um pedido formal ao vencedor para formar um governo em seu nome.
O pedido, obviamente, é aceito e o vencedor das eleições já deixa o palácio como o novo primeiro-ministro do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte.
Logo na sequência, ele se desloca de carro para a residência e escritório oficial do primeiro-ministro. A distância entre 10 Downing Street e o Palácio de Buckingham é de um quilômetro e duzentos metros.
Ao chegar à residência oficial, o primeiro-ministro vitorioso é recebido com festa na rua pelos seus apoiadores e por funcionários públicos que trabalham e administram 10 Downing Street.
Antes de entrar na casa, ele faz seu primeiro discurso já no novo cargo em frente à famosa porta preta com o número 10. A imprensa do mundo todo acompanha o evento, amontoada em um espaço restrito do outro lado da rua.
Uma vez dentro da casa, funcionários públicos mostram a ele os detalhes do lugar, inclusive a parte residencial, que fica no terceiro andar.
Logo depois, já começa o trabalho do primeiro-ministro.
Tradicionalmente, a primeira reunião envolve um briefing sobre os principais pontos de segurança nacional.
Logo em seguida, o novo chefe de governo tem um encontro com militares para assumir a responsabilidade pelas armas nucleares do país.
Nesta oportunidade, ele escreve instruções para os comandantes dos quatro submarinos britânicos que portam armas nucleares para dizer o que eles deveriam fazer caso o país seja atacado e eles percam a comunicação com suas bases em terra.
Na sequência, o primeiro-ministro começa a nomear os seus ministros de Estado, em um processo que pode durar até três dias.
Os principais nomes já são conhecidos, porque no Reino Unido existe um “shadow cabinet”, uma espécie de gabinete paralelo, com políticos oposicionistas atuando como os porta-vozes de suas pastas e propondo medidas alternativas ao governo de fato.
Como o Reino Unido é um sistema parlamentarista, todos os ministros de Estado devem ser integrantes do Parlamento – representantes da Câmara dos Comuns ou integrantes da não-eleita Câmara dos Lordes.
Durante o seu primeiro dia no cargo, o novo primeiro-ministro também recebe dezenas de ligações e mensagens de parabéns pela vitória de líderes de todas as partes do mundo.
Em tese, o vencedor já dorme sua primeira noite na residência oficial. Afinal, na manhã seguinte a mesa de trabalho já terá um pilha de problemas a serem resolvidos.
(Com informações de Américo Martins, da CNN)
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