O Governo da Bahia anunciou, nesta quinta-feira (8), novas mudanças e trocas na Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (SEAP). Entre as mudanças anunciadas está a exoneração de Aída Maria Cintra Telles, que ocupava o cargo de diretora da Superintendência de Gestão Prisional da Seap, conforme publicação do Diário Oficial do Estado (DOE).
A saída de Aída acontece após a servidora ser
citada em uma investigação do Ministério Público da Bahia (MP-BA) que
investigou a atuação dela na advocacia de diversos integrantes da pasta.
O número de integrantes das forças penitenciárias citados seria
superior a uma centena.
Telles que é advogada, e que de
forma simultânea atuou também como chefe de Gabinete da Seap-BA até
pouco tempo. Ela participava de uma sociedade em um escritório de
advocacia. Na investigação, um dos casos apontados na apuração apontou
que a própria ex-servidora da Seap atuou representando o superintendente
de Gestão Prisional, Luciano Teixeira Viana, em um processo-crime.
Além
da diretora, o coordenador II da Coordenação de Assistência à Saúde do
Servidor da pasta, Felipe Carneiro Mascarenhas também foi exonerado.
Além dele, Joir Souza Sala foi destituído do cargo de Diretor Adjunto,
do Presídio Advogado Nilton Gonçalves, em Vitória da Conquista. Na época
do caso, uma reportagem do Bahia Notícias mostrou que a Secretaria de
Administração Penitenciária possuía um quantitativo de 1.231 policiais
penais distribuídos em todo o Estado da Bahia (veja aqui). Do total, o
levantamento aberto pela reportagem detectou ao menos 85 desses
profissionais com registro ativo na OAB, com condição regular para a
atividade advocatícia. Além disso, dos 85, pelo menos 22 policiais
advogam ou já advogaram para custodiados em unidades sob jurisdição da
Seap-BA.
Entre um dos casos, uma servidora atuava no Conjunto
Penal de Feira de Santana, atuando desde 2011, onde possui 222
processos ativos e em que atua na seara penal. Outro caso, em Vitória da
Conquista, no presídio Advogado Nilton Gonçalves, onde um policial
penal nomeado em 2016 já acumulava ao menos 214 processos ligados à
seara penal sob sua representação. A prática se alastra por diversas
unidades da Bahia.
Entre elas estavam o presídio Regional
Ariston Cardoso, em Ilhéus, o Presídio de Salvador, a penitenciária Lemo
Brito, o Hospital de Custódia e Tratamento, o Conjunto Penitenciário de
Teixeita de Freitas, a Colônia Penal de Simões Filho, a Cadeia Pública e
a Colônia Lafayette Coutinho. Além disso, alguns outros policiais
também atuam em outras esferas do judiciário, como na área cível.
Foram
nomeados para os cargos Ramon de Almeida Bagano Guimarães, Flávia de
Jesus Pereira e Gilvan Vieira dos Santos respectivamente.
RELEMBRE O CASO
A
denúncia do MP-BA apontou uma atuação de integrantes do órgão em prol
de custodiados do sistema prisional estadual - acusados de cometerem
crimes e que estavam sob jurisdição da Seap-BA. A atuação é considerada
vedada pelo estatuto da Ordem dos Advogados, onde, em seu artigo 27 e
28, onde é indicado a incompatibilidade e determinado a proibição total
do exercício da advocacia, sendo vedada para ocupantes de cargos ou
funções de direção em Órgãos da Administração Pública direta ou
indireta, segundo inciso III do artigo 28 do estatuto.
O até pouco
tempo secretário da pasta, José Antônio Maia, foi oficiado a se
manifestar sobre denúncia, bem como as medidas administrativas
efetivamente adotadas “a fim de se coibir tal ilícito a considerar que
esta não é a primeira vez que Servidores da Administração Penitenciária
desempenham funções estatais relacionadas à segurança pública e
concomitantemente executam tarefas que os colocam, direta ou
indiretamente, próximos de litígios jurídicos no âmbito da Seap-BA”.
Segundo
informações obtidas pela reportagem do Bahia Notícias sobre a
investigação do caso apontam que o próprio José Antônio Maia manteve seu
registro ativo enquanto esteve na pasta. No inicio de 2024, Maia
entregou pedido de exoneração que foi aceito pelo governador Jerônimo
Rodrigues (relembre aqui). A solicitação seria de ordem pessoal e a
intenção dele era retomar o comando do escritório de advocacia da
família.
Nos bastidores, no entanto, além da justificativa
apresentada por ele, a saída teria sido "proposta" pelo próprio
governador Jerônimo Rodrigues (PT). Informações chegadas ao BN indicam
que existia uma insatisfação de setores ligados à pasta. O estopim para o
desfecho teria sido críticas endereçadas a Jerônimo durante a última
reunião do Conselho Penitenciário da Bahia.
Interlocutores do
setor apontam que lideranças teriam cobrado Maia sobre pedidos de
nomeação pendentes na gestão estadual, recebendo como resposta a
transferência de responsabilidade. O agora ex-secretário teria apontado
para Jerônimo como principal entrave nas nomeações.
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