Cabo da Marinha que pilotava drone do tráfico tinha bunker dentro de casa, no Complexo da Penha

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O cabo da Marinha Rian Maurício Tavares Mota, de 26 anos, preso sob suspeita de operar drones lança-granadas do Comando Vermelho, na segunda-feira passada, tinha um bunker em sua residência no Complexo da Penha, Zona Norte do Rio. Na sala subterrânea, havia equipamentos que lhe permitiam se esconder por dias seguidos. As imagens foram mostradas ontem pelo “Fantástico”, da TV Globo. O programa também exibiu trechos de áudios de conversas do militar com o traficante Edgar Alves de Andrade, o Doca ou Urso, e outros criminosos sobre monitoramento de bandidos rivais e a articulação para ataques a milicianos e comunidades dominadas por outras facções.

A investigação da Polícia Federal revelou que criminosos estão investindo para aperfeiçoar o uso de drones. Recentemente, um drone carregando um artefato explosivo foi utilizado por traficantes da favela do Quitungo para atacar uma facção rival no Complexo de Israel. Em áudios obtidos pelos investigadores, o cabo da Marinha discutia a compra de dispositivos para liberar granadas a partir de drones.

"Nós precisa comprar o dispensador, chefe. É um dispositivo que bota no drone, que ele libera a granada, entendeu? Sendo que vem um cabinho segurando no pino, né? Bota o pino no drone e a granada nesse dispositivo. Quando liberar, vai liberar a granada e o pino vai ficar preso no drone, entendeu? Vai cair lá. A granadinha pequena. Quando eles tiver de bolinho, eu subo e jogo. Só que era bom nós testar aqui no mato, pelo menos uma, duas vezes para ver como que vai ser".

A tática de guerra na disputa por territórios entre grupos criminosos é inspirada a usada em conflitos militares, como na Ucrânia, onde drones são usados para atacar o inimigo.

Em outro áudio, Rian tenta convencer um dos principais do chefes do Comando Vermelho, o traficante Edgar Alves de Andrade, o Doca, a quem chama de pai, a comprar o equipamento.

"Aí, pai. Esse é o dispositivo que tem que colocar. Aí, esse valor aí, eu liguei para lá, a gente comprando hoje, chega amanhã ou depois de amanhã no máximo".

Doca concorda e responde: "Demorou, mas nós tem que ver a granada, tá ligado, não? Só vê a granada que nós coloca. Já é, Vamos fazer o teste".

Rian, que servia na sede do Comando da Força de Superfície em Niterói, utilizava sua formação militar para monitorar os movimentos de rivais e coordenar ataques contra milicianos com o uso de drones. Ele ainda cobrava empenho dos integrantes da facção criminosa.

"Só falta a ação. Nossos caras têm que tá lá antes dos cara brotar. Não é depois. Os caras vai tá entocado à noite, os caras também não é bobo, né?"

A investigação da PF ainda revela que, em sua residência no Complexo da Penha, foram encontrados um bunker e equipamentos que permitiam que ele se escondesse por dias. Ainda de acordo coma PF, o militar tinha passado por um dos cursos mais rigorosos da corporação voltado a formação de mergulhadores e recentemente se matriculou em um curso particular de preparação para tiros precisos de longa distância.

A PF também encontrou registros de acompanhamento da movimentação policiais no entorno de favelas controladas pelo Comando Vermelho. Neles, Rian era o responsável por orientar a fugas de traficantes.

"Visão meus amigos. É realmente é o caveirão que está na br, pegou a visão e as barcas da choque e nesse exato momento tá entrando mais barca da choque com os cana em cima na gaiola, em cima na gaiola. Os cana tá tudo encapuzado, tudo de touca ninja.

Para o delegado da Polícia Federal, o uso desses equipamento e a cooptação de pessoas qualificadas por parte das facções criminosos é preocupante, pois oferece ainda mais risco a vida dos policiais e da população. Já que os policiais agora precisam se preocupar não apenas com tiros, mas também com explosivos lançados de drones.

- Preocupa, né, porque a gente tem de um lado um indivíduo muito bem qualificado, né, com conhecimento militar, e de outro lado, uma facção criminosa que aparentemente não tem limites no Rio de Janeiro e tem muito dinheiro, muito capital para poder adquirir os equipamentos que ela julgar necessário. Agora o policial tem que se preocupar com a Granada que está caindo do céu, né? Antes ele se preocupava só com um tiro que está vindo numa direção horizontal e agora tem que se preocupar, além das lajes, que é um procedimento normal, uma conduta de patrulha, se preocupar com o artefato explosivo fragmentado, que pode cair no meio de uma tropa e lesionar um sem número de de agente, né? Além das da população local.

Segundo a Polícia Federal, este não é um caso isolado. Outras investigações identificaram que traficantes de várias facções do Rio de Janeiro já usam drones capazes de lançar granadas.

A reportagem do Fantástico procurou a Polícia Civil, que foi questionada sobre a quantidade de incidentes envolvendo drones armados, mas a corporação não respondeu. Rian Mota, que se considerava um ativo estratégico dentro do tráfico, acabou sendo preso devido ao mesmo equipamento que usou para auxiliar a facção. 

Fonte:O Globo

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