O ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), mergulhou nas campanhas eleitorais de seus aliados mais próximos em cidades do interior da Bahia, participando de caminhadas, carreatas e comícios nas últimas duas semanas.
O movimento, contudo, não se estendeu a Salvador. Um mês depois do início oficial da campanha eleitoral, o ministro não participou de nenhum ato de campanha ao lado do vice-governador Geraldo Júnior (MDB), que disputa a prefeitura da capital baiana com o apoio do PT.
A candidatura de Geraldo Júnior foi costurada pelo senador Jaques Wagner (PT), que prevaleceu na disputa interna com Rui Costa dentro da base aliada. O ministro, que defendia junto a aliados o nome do ex-vereador José Trindade (PSB), foi isolado no processo de escolha.
Os dois ex-governadores vivem uma relação conturbada desde as eleições 2022, mas mantém a aliança política em nome da unidade do grupo. Ainda assim, disputam espaços e influência dentro do PT da Bahia e do governo Jerônimo Rodrigues (PT).
Internamente, o ministro tem sido pressionado a se engajar na campanha de Geraldo, que enfrenta um cenário adverso em uma campanha morna contra o prefeito Bruno Reis (União Brasil).
Pesquisa Quaest divulgada nesta terça-feira (17) apontou Bruno Reis com 74% das intenções de voto contra 6% de Geraldo Júnior e 4% de Kleber Rosa (PSOL) e 1% de Victor Marinho (PSTU). Os demais candidatos não pontuaram.
Geraldo foi aliado de Bruno Reis, mas rompeu com o aliado para compor a chapa com Jerônimo Rodrigues em 2022. Com um histórico no campo conservador, sua candidatura tem enfrentado dificuldades para mobilizar o eleitorado mais à esquerda.
Aliados de Rui confirmam que ele vai priorizar o interior, mas deve participar de ao menos um evento de Geraldo Júnior até o fim da campanha. A presença é encarada um gesto em prol da unidade do grupo.
Com planos de concorrer ao Senado em 2026, o ministro tem se dedicado a consolidar seu grupo político e impulsionar aliados mais próximos. Reportagem do UOL desta quarta (18) revelou que o Governo da Bahia gastou R$ 3,9 milhões para recuperar um aeródromo com pista de pouso para aviões de pequeno porte na cidade onde o ministro comprou recentemente uma fazenda.
Rui, mesmo com a agenda de compromissos em Brasília e viagens para agendas institucionais com o presidente Lula (PT), participou de atos de campanha em cinco cidades do interior da Bahia nos fins de semana.
O primeiro compromisso foi em Valença, cidade de 85 mil habitantes do baixo-sul da Bahia, onde Rui participou de uma carreata do candidato Marcos Medrado (PV) em 7 de setembro.
Medrado foi vice-prefeito de Salvador entre 1997 e 2004 na gestão Antônio Imbassahy, então no PFL, mas aproximou-se do PT após a eleição de Jaques Wagner ao governo em 2006. Seu filho, Diogo Medrado, faz parte do núcleo duro de aliados de Rui Costa no governo Jerônimo Rodrigues (PT).
No dia seguinte, o ministro participou de uma caminhada em Camaçari, cidade da Região Metropolitana de Salvador, ao lado do candidato Luiz Caetano (PT). O petista foi secretário de Relações Institucionais da gestão Rui Costa e foi cotado como candidato ao governo da Bahia em 2022.
No último fim de semana, Rui desembarcou no sul da Bahia para agendas em Ilhéus, Itabuna e Maracás.
No sábado (14), participou de uma carreta ao Adélia Pinheiro (PT), candidata em Ilhéus. Professora universitária, ela foi secretária de Ciência e Tecnologia e de Saúde na gestão Rui e faz sua estreia nas urnas.
Rui foi para Itabuna no domingo (15), onde participou de uma carreata do prefeito Augusto Castro (PSD). No mesmo dia, seguiu para Maracás, cidade de 27 mil habitantes, onde participou de um comício do candidato Nelson Portela (PT). Em discurso, se comprometeu a viabilizar um hospital na cidade.
Maracás é um de redutos eleitorais de Rui Costa. Em 2010, quando concorreu a uma cadeira na Câmara dos Deputados, ele foi o deputado federal mais votado da cidade, com cerca de 40% dos votos.
Ainda estão previstos atos em Lauro de Feiras, Barreiras e Feira de Santana, cidades que estão entre as prioridades do PT.
Em Salvador, a participação até o momento se resume a vídeos. Na televisão e rádio, Geraldo tem dado destaque aos apoios do governador Jerônimo Rodrigues e do presidente Lula, que também não participou de nenhum ato de campanha em Salvador.
Em julho, Rui sinalizou em entrevista à Folha que teria uma atuação tímida na campanha em Salvador, em uma declaração que irritou aliados de Geraldo Júnior. Ele alegou que não conseguiria sair de Brasília para atuar na campanha.
No mês seguinte, Rui ensaiou não ir à convenção que oficializou a candidatura de Geraldo e chegou a avisar ao governador que não compareceria. Mas mudou de ideia e chegou ao evento quando a convenção já se encaminhava para o final.
João Pedro Pitombo/Folhapress
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