O deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB), indicado de Arthur Lira (PP-AL) para sucedê-lo na presidência da Câmara, ampliou apoios na disputa e conseguiu unir o PT de Lula e o PL de Bolsonaro em torno de sua candidatura.
“O PL vai apoiar o deputado Hugo Motta, formou uma comissão de alguns deputados, que vai levar algumas reivindicações de pautas importantes”, disse à reportagem na noite desta quarta-feira (30) o líder do partido, Altineu Côrtes (RJ). “Mas já temos a maioria e o apoio a Hugo Motta está decidido”.
Deputados da legenda de Bolsonaro haviam entregado uma lista de pautas prioritárias ao candidato, com menção ao PL da Anistia e à PEC (Proposta de Emenda à Constituição) das Drogas.
A bancada do PT na Câmara se reuniu com Hugo nesta quarta-feira (30) e, após a benção de Lula, também fechou o apoio, apesar do incômodo de uma ala do partido com a decisão de Lira de criar uma comissão especial para debater o projeto de lei que concede anistia aos condenados pelos ataques golpistas do 8 de janeiro de 2023.
O PL da Anistia pelos ataques golpistas de 8/1 seria votado na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e, com a comissão especial criada por Lira, teve sua tramitação interrompida. A continuidade depende agora de o presidente da Casa instalá-la.
Integrantes do PT queriam o compromisso de que Hugo não pautaria a anistia se eleito, o que não deve ocorrer. O parlamentar defendeu a criação da comissão especial para debater o tema. O PL, por sua vez, procura o oposto.
A eleição para o comando da Câmara ocorre em fevereiro. Também são candidatos os deputados Elmar Nascimento (União Brasil) e Antonio Brito (PSD), líderes de partidos com ministros no governo Lula.
Lira oficializou o apoio a Hugo na manhã de terça. Horas depois, o PP, partido do atual presidente da Casa, anunciou o mesmo. O candidato também recebeu a chancela do Podemos na tarde desta quarta.
A definição do PT e do governo Lula tem sido visto como essencial para o objetivo de Lira de garantir um nome de maior consenso.
Lula recebeu nesta quarta a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), o líder do governo José Guimarães (PT-CE), e o líder da bancada na Câmara, Odair Cunha (MG), para traçar estratégias sobre o anúncio do apoio e evitar ruídos com a base aliada.
O nome de Hugo não sofre objeções de Lula e, segundo relatos feitos à reportagem, o presidente afirmou que a decisão era da bancada do partido e que ele não iria se envolver. Nesse sentido, delegou a decisão aos próprios deputados.
Desde o começo das negociações, o presidente da República tem ressaltado que não quer enfrentar Lira no processo e que é preciso evitar disputas na base do governo no Congresso.
Segundo integrantes do partido, a opção por Hugo já contava com maioria na bancada petista antes da conversa com Lula. Um deputado projeta que o candidato tem hoje dois terços da bancada (formada por 68 deputados).
Além da questão da anistia, há parlamentares petistas insatisfeitos com Hugo por causa da sua relação com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o presidente do PP, Ciro Nogueira.
O movimento do PT ocorreu num momento em que outras siglas se unem à candidatura do indicado de Lira. É esperado que MDB também siga por esse caminho, e até integrantes do União Brasil, de Elmar Nascimento, trabalham por Hugo.
Um petista diz que, diante do avanço dessas conversas, o partido não poderia ficar excluído do processo sob pena de perder espaço na composição da Mesa Diretora e nas comissões temáticas.
Um dirigente do PT afirma que a comissão sobre a anistia vai para as calendas, a exemplo do que aconteceu com a comissão que discutiria uma nova proposta do projeto das Fake News. Outro integrante do PT lembra que o projeto de anistia não inclui a elegibilidade de Bolsonaro —o ex-presidente elogiou atitude de Lira de levar o tema para comissão especial.
Apesar da resistência de uma ala do PT à decisão de Lira sobre a anistia, integrantes da cúpula do partido viram na criação de uma comissão para debater a proposta um acordo possível e uma janela para negociação com Hugo.
Na mesma negociação entrou a votação da reforma tributária, que teve um segundo projeto de regulamentação pautado por Lira e aprovado no plenário da Câmara nesta quarta. Hugo se reuniu com integrantes do PT enquanto Lira conduzia a votação.
Em conversas com articuladores do governo, Lula pede esforço para que a sucessão não afete propostas de interesse do Executivo, em especial a conclusão da regulamentação da reforma tributária.
Em busca de apoio sobretudo de Lula e do PT, Elmar fez duras críticas após Lira anunciar a indicação de Hugo. Ele disse que Lira agora prega que a Câmara deve ser a Casa do consenso mas atuou como “líder do governo Bolsonaro” em seu primeiro mandato.
“Vocês assistiram o primeiro mandato do presidente Arthur Lira. Ele diz que é tão a favor da convergência, que ele foi presidente da Câmara e líder do governo Bolsonaro ao mesmo tempo, modificando inclusive o regimento para tirar a capacidade de obstruir da Câmara. Não pode agora dizer que essa Casa tem que ser a Casa do consenso. Não o consenso artificial. A gente quer trazer o consenso verdadeiro”, afirmou na quarta.
Catia Seabra/Victoria Azevedo/Folhapress
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