Com que cara o senador Jaques Wagner, considerado o papa, o mago, o bruxo do PT baiano, deve estar olhando desde ontem para os representantes do partido em Salvador, depois de dizimar a bancada municipal da legenda em prol de uma candidatura inominável à Prefeitura como esta que ele escolheu?
Aliás, com que ânimo os vereadores e outros aspirantes petistas à Câmara Municipal, destruídos pelo completo desprezo dele às suas carreiras e trabalho político na capital baiana, devem estar olhando de volta agora para o principal líder de seu partido? Ainda acham que, de fato, ele os comanda?
Estão dispostos a continuar defendendo-o de certas críticas que lhe fazem os adversários e, em conversas de bar, enaltecê-lo como um dos maiores políticos da Bahia? A responsabilidade de Wagner pela desastrada campanha do governo do Estado à sucessão em Salvador é cabal. Irrestrita!
E espera-se que ele, matreiramente, como às vezes acontece, não tente dividi-la com o governador Jerônimo Rodrigues nem com o ministro Rui Costa (Casa Civil). Foi Wagner quem operou abertamente para que o candidato a prefeito escolhido pelo seu grupo fosse o elemento do MDB.
Para isso, inviabilizou o nome do próprio partido, depois de, instando-o a concorrer, usá-lo maquiavelicamente para impedir que o candidato da preferência de Rui Costa entrasse no PT para tentar disputar. Foi o senador que também forçou a barra para que o MDB concluísse o delírio de lançar o candidato.
Os Vieira Lima, Geddel e Lúcio, conhecedores antigos do velho personagem com cara aparente de novidade e simpatia, sabiam, desde sempre, e deixaram isso claro ao senador, que se tratava de uma barca furada, mas, obviamente, não tinham porque se interpor ao desejo de Wagner.
Tampouco nunca fez sentido a tese, que se atribuía ao senador, de que, no fundo, seu plano era levar o MDB a lançar o nome em Salvador para, derrotado como ele saiu, minar a pretensão do partido de renovar seu mandato como vice na chapa de Jerônimo, em 2026.
Primeiro, porque o arranjo que permitiu ao partido indicar o candidato a vice-governador na chapa governista, em 2022, não teve nada de eleitoral – depois de várias refregas, a sigla estava então se reabilitando e o cara é conhecido, desde o princípio, por ser péssimo de voto.
Como se sabe, foi acordo meramente político e simbólico, organizado dentro de um plano em que diversas forças, apoiando o PT, se articularam para derrotar ACM Neto (União Brasil) ao governo.
Depois, porque o MDB, desde sempre, vem dando sinais claros de que não mira na próxima vice de Jerônimo – há outros espaços importantes que ocupa e aos quais dá prioridade em manter.
Este Política Livre foi o primeiro a registrar que entregar a cabeça de chapa a um candidato como o escolhido seria devastador para a bancada municipal do PT. Fez isso levantando informações sobre o impacto da candidatura sobre a bancada.
Os próprios vereadores petistas, num primeiro momento, demonstraram apreensão com o andamento das articulações em favor do candidato arranjado, para logo em seguida serem convencidos pela cúpula petista, contra todas as evidências, de que o ator bufo, com característica de animador de auditório, decolaria.
Ledo engano!
O resultado não poderia ter sido mais triste para todos eles e em especial para alguns de notável valor, como Arnando Lessa, cuja derrota representa uma perda para o PT, o Legislativo e a cidade.
Não fosse a única vereadora eleita do PT irmã do governador do Estado, que, justificadamente, jogou todas as fichas na sua reeleição, o partido teria simplesmente desaparecido da Câmara.
Vejam, por exemplo, o que aconteceu com o nanico PSOL de Kleber Rosa, o segundo vitorioso nesta eleição depois do prefeito Bruno Reis (União Brasil), que, sem as benesses governistas e a estrutura do MDB ou do PT, conseguiu a proeza de empurrar o candidato de Wagner para a terceira posição e elegeu dois vereadores em Salvador.
É de se voltar à pergunta: afinal, que pacto macabro Wagner fez com o candidato caricato do MDB para levar adiante a promoção de sua figura histriônica em detrimento do próprio partido e de tanta gente verdadeiramente merecedora de apoio na Câmara?
Política Livre
0 Comentários