Morte por CEP: entenda por que facções executam moradores de bairros 'rivais'

Richard morava em Cajazeiras, mas estava passando um tempo na casa da irmã, na Federação, até ser sequestrado por criminosos na Rua Souza Uzel, na última sexta-feira (27). Ainda assim, por um dos traficantes reconhecê-lo dos tempos do Garcia, acabou morto. Como ele, outros já foram vítimas. Em março deste ano, por exemplo, um morador da área do BDM acabou morto após ser localizado pelo CV na Santa Cruz.

Leia mais

“A ousadia e a crueldade com que as facções criminosas executam suas punições repetem muitas das práticas verificadas no Rio de Janeiro. Geralmente, são crimes que servem para mostrar autoridade de uma liderança do tráfico e impor o medo a quem infringe regras, com a perversidade, ousadia e crueldade de quem mata sendo recompensadas, não raro, em forma de status”, afirma o especialista.

Ouvidos pela reportagem, familiares indicaram que o traficante que reconheceu Richard dos tempos em que ele morava no Garcia é conhecido como Daniel. A reportagem consultou uma fonte policial, que terá nome e cargo preservados, que confirmou a identidade do suspeito citado como Daniel Vilas Boas, responsável por roubos recentes na região e alguém em busca do status citado por Antônio Jorge.

Richard de Jesus tinha apenas 21 anos e estava desaparecido desde sexta (27)
Richard de Jesus tinha apenas 21 anos e estava desaparecido desde sexta (27) Crédito: Reprodução

“Ele tem feito assaltos, mas a prática primária dele não é roubo. Acontece que ele está com uma dívida porque perdeu uma [carga de] droga. Então, ele tem tentado levantar esse dinheiro com outras práticas criminosas. No mês passado, inclusive, roubou a mãe de um PM na Rua do Trilho, na Federação”, relata a fonte. Daniel seria, inclusive, morador da Rua 13, local onde Richard foi capturado pelos criminosos.

Ao falar do caso, Antônio Jorge, que também é coordenador do curso de Direito da Estácio, acrescenta que, assim como a cobrança de pedágio para comerciantes, execuções como a de Richard compõem um estado de medo que interessa aos traficantes. “Essas execuções reafirmam a dominação violenta dessas organizações criminosas e servem também para silenciar a comunidade, dando exemplo para quem desafiar a facção”, aponta.

Procurada para responder sobre o caso, a Polícia Militar da Bahia (PM) informou apenas que agentes da 26ª Companhia Independente (CIPM) foram acionados e, ao chegarem à Bonocô, encontraram o corpo. A área foi isolada. e o Departamento de Polícia Técnica (DPT), acionado para a remoção do corpo e realização de perícia. O caso vai ser investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). 

Correio

Postar um comentário

0 Comentários