Rio vira esconderijo para ‘turistas’ do crime

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Números mostram que o Estado do Rio vem se tornando um dos destinos mais procurados por criminosos de várias partes do país. Do início de janeiro de 2024 até o último dia 15 de outubro, a Polícia Militar prendeu, na Região Metropolitana, um total de 140 foragidos de 19 estados. Todos tinham prisões decretadas pela Justiça de seus locais de origem. A maioria integra alguma facção criminosa e, em grande parte dos casos, responde por crimes como homicídio, roubo e tráfico.

Jeimes Cassiano Lisboa, o Lavezzi de 26 anos — Foto: Reprodução
Jeimes Cassiano Lisboa, o Lavezzi de 26 anos — Foto: Reprodução

Os estados de Minas Gerais, com 36 fugitivos, São Paulo, com 29, e Paraíba, com 11, estão no topo das estatísticas de recapturados no Rio. Já outros 18 presos que fazem parte da lista não informaram os estados de origem no ato da prisão. Há ainda no levantamento feito pela PM alguns que não pertencem a qualquer facção e outros que eram procurados por não pagamento de pensão alimentícia.

Ismario Wanderson Fernandes da Silva, o Bacurau, de 34 anos — Foto: Reprodução
Ismario Wanderson Fernandes da Silva, o Bacurau, de 34 anos — Foto: Reprodução

Geografia como aliada

Segundo o coronel Ranulfo Brandão, subsecretário operacional da PM, na maior parte dos casos, os foragidos estavam abrigados em comunidades controladas pelo Comando Vermelho (CV) ou pelo Terceiro Comando Puro (TCP). A lista não cita outras facções criminosas ou milícias, e não inclui os suspeitos detidos pela Polícia Civil.

— A maioria veio de Minas Gerais. E também de São Paulo e de alguns estados do Nordeste. Os foragidos são mais encontrados, normalmente, em comunidades, principalmente nos complexos de Israel (Vigário Geral, Parada de Lucas, Cinco Bocas e Cidade Alta), da Penha e do Alemão, além da Rocinha. É até natural (a preferência dos criminosos pelos locais) pela complexidade para se operar (a polícia atuar) nesses locais. E eles também têm conhecimento disso — explica o coronel.

Um dos foragidos capturados no Rio foi Ismario Wanderson Fernandes da Silva, o Bacurau, de 34 anos. Localizado durante uma operação no Complexo da Maré, que durou dois dias (11 e 12 de junho) e acabou com dois policiais mortos, um ônibus incendiado e 24 detidos, Bacurau era procurado pela polícia do Ceará. Ele é apontado como o principal homem do TCP na localidade conhecida como Itaitinga e no bairro Conjunto Palmeiras, ambos em Fortaleza, na capital cearense. Além disto, é suspeito de participação em pelo menos dez assassinatos, cometidos por conta de disputas entre facções rivais na mesma região.

Um dos últimos foragidos oriundos de outros estados a ser preso no Rio foi Jeimes Cassiano Lisboa, o Iavezzi, de 26 anos. Procurado por tráfico de armas e drogas e envolvimento em assaltos a bancos na Bahia, ele foi detido no dia 10 de outubro, escondido com outros três homens e três jovens em um motel, na Avenida Brasil. O grupo havia fugido de uma operação policial no Complexo de Israel, quando agentes tentavam capturar o traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão. Um dos principais chefes do TCP, Peixão conseguiu escapar. Na ocasião, policiais localizaram duas mansões usadas pelo criminoso, uma delas com piscina, churrasqueira e sauna.

Ainda não se sabe a função que todos os foragidos exerciam enquanto eram abrigados em comunidades controladas pelo tráfico. Mas, em alguns casos, os até então procurados usavam os locais como esconderijo para chefiar o crime em seus estados à distância ou para cometer assaltos no Rio. Em troca, eles cediam parte do lucro nas ações para pagar pelo abrigo.

Troca de informações

O elevado número de foragidos que buscam o Rio de Janeiro como esconderijo provocou uma integração entre setores de inteligência da PM e corporações de outros estados. É comum, por exemplo, o recebimento de informações vindas de fora do Rio dando conta de que bandidos teriam deixado seus locais de origem para se esconder em território fluminense. Num dos casos, o trabalho em conjunto ajudou a confirmar de modo mais rápido a identificação de um foragido da Bahia.

— (O trabalho) sempre foi integrado. Existe um canal oficial, mas, por exemplo, a nossa inteligência tem o WhatsApp do chefe da inteligência dos estados do Nordeste. Eles compartilham fotos — conta Ranulfo Brandão. — Teve um preso, que era da Bahia, em que houve uma dificuldade. Ele não quis abrir o celular, nem quis se identificar. Fizeram contato com a polícia da Bahia para poder identificá-lo aqui. Então, isso é fruto dessa integração, porque não tem como trabalhar sem isso.

No dia 16 de agosto, Demilson Sales das Neves, o Tutuca, de 35 anos, foi preso no Complexo de Santa Teresa, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, que é controlado pelo TCP. Segundo a polícia, ele é um dos principais chefes do tráfico de Salvador e também é suspeito da morte de um policial civil.

Doze dias depois, em 28 de agosto, foi a vez de Guilherme Augusto Rodrigues Gomes Ribeiro, o Menor ou Playboy, de 18 anos, preso em Rio das Ostras, na Região dos Lagos, em uma comunidade também ligada ao TCP. Ele é integrante da facção criminosa Família Capixaba e era procurado pela morte de um policial em Cariacica, na Grande Vitória, no Espírito santo.

No início do ano, em 31 de janeiro, Fábio de Almeida Maias, o Biú, de 29 anos, foi baleado durante uma ação do Bope no Complexo da Penha, na Zona Norte. Ele chegou a ser levado para o Hospital Getúlio Vargas, no mesmo bairro, mas não resistiu aos ferimentos. Em protesto por sua morte, parte do comércio fechou no bairro Pirambu, em Fortaleza . Ele era procurado por mais de 50 crimes no Ceará, e por ser um dos chefes do CV no estado.

Em abril abriu passado, a Polícia Civil informou que o Estado do Rio tinha menos 101 traficantes de outros estados escondidos em comunidades da Região Metropolitana, todas dominadas por facções criminosas. Entre eles, estavam 12 dos 13 chefes da principal facção do Pará, o Comando Vermelho (CV). Essa migração acontece, na maioria das vezes, depois que os bandidos têm a prisão decretada. 

Fonte:Extra o Globo

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