Sacramentada nesse domingo (27/10) com quase 60% dos votos, a reeleição de Ricardo Nunes (MDB) à Prefeitura de São Paulo foi lida nos bastidores da política e declarada pelo próprio prefeito como uma vitória do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
No primeiro encontro com o aliado após as urnas decretarem a derrota do deputado Guilherme Boulos (PSol), Nunes abraçou Tarcísio e disse: “Olha o grande vencedor aí”. Minutos depois, no palco, o prefeito chamou o governador de “líder maior”, disse que não ganharia sem o apoio dele, e se colocou à disposição para ajudá-lo em “todas as construções do seu destino”.
“Tarcísio, seu nome é presente, mas seu sobrenome é futuro”, disse Nunes, que só citou Jair Bolsonaro (PL) uma única vez, de forma tímida, citando a “indicação preciosa” de seu vice, o Coronel Mello Araújo (PL).
Em sua fala, Tarcísio exaltou a reeleição do emedebista como a conquista de uma “frente ampla que se formou” – a coligação de Nunes tinha 12 partidos – e disse que “essa é uma vitória das lideranças que estão aqui”, sem citar Bolsonaro, que estava ausente.
Tarcísio mergulhou de cabeça na campanha de Nunes no momento mais crítico, quando o atual prefeito havia caído nas pesquisas e começado a ver sua ida ao segundo turno ameaçada pela candidatura do influenciador Pablo Marçal (PRTB). A ação contrariou conselhos de Bolsonaro, que defendeu um afastamento de Nunes, e foi destacada pelo prefeito como um “grande gesto de lealdade”.
Enquanto discursavam no palco da vitória, em um clube na zona sul da capital, Nunes e Tarcísio estavam ao lado de dois importantes caciques partidários: o deputado Baleia Rossi, presidente do MDB, e o secretário estadual de Governo, Gilberto Kassab, presidente do PSD.
Na arena política, Kassab virou o principal desafeto do bolsonarismo em São Paulo – o ex-presidente e aliados se queixam do espaço que ele tem no governo Tarcísio ao mesmo tempo que o PSD integra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Já Baleia, que apoiou Lula contra Bolsonaro no segundo turno em 2022, deu uma indireta ao ex-presidente criticando lideranças políticas que se afastam em momento difícil da campanha.
PSD e MDB foram os partidos que mais elegeram prefeitos nas eleições municipais deste ano – 887 e 856, respectivamente. Já o Republicanos de Tarcísio fez 435 prefeituras, ficando atrás apenas de PP, União e PL. Todas essas legendas integraram a coligação de Ricardo Nunes e a tendência é que se fortaleçam em São Paulo em torno de um grupo político liderado por Tarcísio.
Com Bolsonaro inelegível até o momento, o nome do governador de São Paulo já é cotado, há algum tempo, como o presidenciável mais forte para tentar derrotar Lula em 2026. Agora, com a vitória de Nunes na maior cidade do país, ele multiplicou o cacife político.
A interlocutores, Tarcísio tem dito que é cedo para falar sobre sucessão presidencial e manifestado vontade de disputar a reeleição ao governo daqui a dois anos, uma disputa considerada tranquila por aliados.
Além de um aliado próximo na cidade mais rica e populosa de São Paulo, Tarcísio terá, na segunda etapa de seu governo, prefeitos de partidos aliados nas maiores prefeituras paulistas, como Guarulhos, Campinas e São Bernardo do Campo. Os prefeitos são considerados importantes cabos eleitorais nas disputas regionais.
Esses mesmos aliados, contudo, destacam que, se a avaliação do presidente Lula começar a cair e o governador aparecer bem nas pesquisas eleitorais que virão, a pressão por uma candidatura presidencial sobre ele vai crescer.
Tarcísio tem dito publicamente que tem “gratidão eterna” por Bolsonaro pelo fato de o ex-presidente ter decidido lançá-lo candidato ao governo paulista em 2022 mesmo ele tendo nascido no Rio de Janeiro e morado em Brasília. Mas a eleição de Nunes na capital marcou uma autonomia política que o governador não havia experimentado e que foi coroada com uma vitória nas urnas.
Papel de Tarcísio na campanha
Foi Tarcísio quem intermediou o fechamento das negociações, iniciadas ainda em dezembro do ano passado, para garantir o apoio de Bolsonaro a Nunes. Em junho, o governador deixou claro ao prefeito que o ex-presidente só embarcaria em sua campanha se Nunes confirmasse como vice o indicado por Bolsonaro, o Coronel Mello Araújo (PL). Com isso, a aliança foi selada.
Ainda assim, no fim de agosto, Bolsonaro se mostrava pouco confiante na vitória de Nunes e, em conversa com o governador, aconselhou-o a se afastar do prefeito para evitar possíveis prejuízos políticos em caso de derrota.
Tarcísio, no entanto, permaneceu ao lado de Nunes e se empenhou ainda mais na campanha. Além de gravar programas para a propaganda do prefeito e participar de uma série de atos de rua com ele, o governador passou a organizar jantares e participar de cultos religiosos, sem a presença de Nunes, para pedir votos por sua reeleição.
No início de setembro, quando Bolsonaro fazia gestos de aproximação a Marçal, o governador chegou a ir a Brasília apenas para conversar pessoalmente com o ex-presidente e reforçar os apelos de apoio a Nunes.
Segundo turno
O esforço de Tarcísio já havia sido reconhecido pela equipe do prefeito ao final do primeiro turno, quando Marçal foi derrotado. No segundo turno, com Boulos como rival, e sem a necessidade de reunir todos os eleitores de centro, direita e extrema direita ao redor de um único candidato, o governador pôde se distanciar da campanha, reduzindo as agendas públicas com Nunes.
Nessa fase, o esforço do governador seguiu uma estratégia diferente. Embora a equipe de Nunes avaliasse que o apoio de Bolsonaro já não era tão necessário, Tarcísio manteve a articulação entre os dois aliados e insistiu para que ambos se encontrassem. Esse encontro ocorreu em um almoço com empresários conservadores, em um restaurante de luxo no Morumbi, zona oeste da capital.
Aliados de Nunes e do próprio Tarcísio são reticentes em comentar sobre os frutos que o governador espera colher após tanto esforço. Ao manter um aliado de confiança na Prefeitura, Tarcísio eliminou obstáculos para implementar programas que poderão servir como vitrine eleitoral na próxima eleição. O que os aliados não revelam, entretanto, é se a eleição futura será para um novo mandato como governador ou para a Presidência da República.
Fonte:Metrópoles
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